Por Rafael Alef

Os aplicativos de transporte se tornaram indispensáveis na rotina de muitos brasileiros com a chegada da multinacional norte-americana, Uber, em 2014. Anteriormente direcionado aos pontos de taxi, o acesso ao transporte público individual passou a ser solicitado de forma otimizada através de aplicativos em smartphones e tablets.

As vantagens, como o preço acessível e a facilidade para encontrar carros disponíveis próximos a sua localização, foram destaque por um tempo, mas, atualmente, a modalidade de prestação de serviços enfrenta críticas por parte de passageiros e motoristas.

Com os altos custos de manutenção dos veículos em atividade e a constante crescente no preço do combustível liquido, muitos motoristas autônomos já deixaram de prestar serviços para empresas como a Uber e 99, o que consequentemente resultou na redução de carros a disposição.

LONGAS ESPERAS

O estudante de letras, Pedro Meireles, é um dos inúmeros passageiros que vem enfrentando dificuldades na chamada de corridas curtas devido à diminuição no número de condutores disponíveis. Morador do bairro Calafate, região oeste de Belo Horizonte, Pedro acredita que, diferente das corridas menores, as viagens de maior duração e distância não foram impactadas por serem mais vantajosas aos motoristas.

“Quando vou a casa da minha mãe, que mora em outra cidade, é mais tranquilo conseguir um carro por ser uma viagem maior”, explica.

Além do longo tempo de espera, quem precisa de uma viagem rápida também encontra preços instáveis e acaba sem opções quando recorrer ao transporte público coletivo já não é uma possibilidade.

Morador do bairro Urca, em BH, Rodrigo Pereira costuma fazer comparações entre os principais aplicativos quando precisa de uma corrida, avaliando quem chega à sua localização mais rápido e qual oferta o melhor preço. Atualmente, se depara com situações em que acaba saindo em desvantagem.

“Precisei pagar um valor bem mais caro que o normal porque precisava chegar em um hospital com urgência. Não apareciam carros, e quando algum motorista aceitava a corrida, cancelava em seguida” relembra.

BENEFÍCIOS QUE PREJUDICAM

Com as ofertas especiais, como as modalidades UberPromo e 99Poupa, os passageiros que optam por solicitar viagens em horários de menor demanda têm acesso a corridas mais baratas. Contudo, as opções promocionais podem afetar financeiramente quem está atrás do volante.

Para Weslley Wagner dos Santos, motorista de aplicativo há quase três anos, as vantagens ofertadas são benéficas para os passageiros, mas prejudicam os ganhos finais para os prestadores do serviço.

O condutor explica que, em viagens de curta distância, geralmente em bairros, os valores de lucro para os motoristas são pequenos e o tempo em corrida é maior, decorrência de fatores como um alto número de quebra molas e sinais de trânsito.

“Às vezes a distância até o passageiro é de 1,5km e a corrida é de 2km, são quase quatro quilômetros rodados para um ganho de cinco reais. Não vale a pena, e por isso muitos motoristas recusam as viagens”, explica.

Weslley também reforça que os altos gastos com a manutenção de um veículo, seja próprio ou alugado, influenciam na escolha de viagens por muitos condutores. Com as novas etapas de flexibilização do isolamento social, mais solicitações de corridas ocorrem diariamente e mesmo entendendo que o passageiro vai optar por opções mais baratas, o motorista prefere se organizar de forma a não se prejudicar ao longo da rotina de trabalho.

“Costumo só aceitar corridas acima de R$ 20,00 reais em dias de semana, salvo se o movimento estiver muito ruim ou se eu precisar sair de alguma localização”, relata.

DESMOTIVAÇÃO EM ALTA

A baixa rentabilidade em decorrência das vantagens direcionadas ao passageiro também leva muitos condutores a deixarem o setor. Segundo Simone Almeida, presidente do Sindicato dos Condutores de Veículos que Utilizam Aplicativos do Estado de Minas Gerais (Sicovapp), cerca de 50% dos motoristas de aplicativo deixaram a profissão em meio a alta nos preços de combustíveis líquidos e o desgaste da rotina que já não é tão lucrativa.

Simone acredita que o cálculo matemático vinculado à inteligência artificial do aplicativo, responsável por calcular a média de valor para uma corrida em transporte público individual, é mais instável na multinacional norte-americana, Uber. Segundo a presidente do sindicato, a empresa estabelece uma variação de 27 à 40% na porcentagem sobre as corridas realizadas, enquanto as demais plataformas tem tarifas pré-fixadas de 9,5 à 15%, mais vantajosas para o motorista.

Visando o estabelecimento de medidas de incentivo para os condutores, o Sicovapp apresenta opções mais rentáveis como a busca por veículos mais eficientes no custo benefício de consumo e manutenção, além de preparar o motorista com estratégias de “rodagem”, veiculadas rotineiramente através das redes sociais do sindicato.

“Acredito que a demora no tempo de espera por veículos será regularizada quando houver reajustes significativos pelas empresas em prol da valorização do trabalho do motorista”, opina Simone.

O DaquiBH entrou em contato com as empresas de transporte público individual, Uber e 99, para comentários sobre as principais reclamações entre passageiros e motoristas. Enquanto a Uber não respondeu ao contato, a 99 recusou entrevista, mas prepara nota oficial que não foi recebida pela redação até a publicação do conteúdo.