Por Amanda Alves

O Buritis é um bairro localizado na região oeste de Belo Horizonte, reconhecido pelo senso comum como um bairro relativamente novo e com maior parte da população incluída na faixa social da classe média.

Nesta série de reportagens propostas pelo Jornal DaquiBH, mostraremos a diversidade de pessoas que vivem, trabalham ou transitam pelo bairro. Nosso objetivo é contribuir com uma visão diversa e aproximada dos personagens que participam da vida local. É uma homenagem às pessoas que constroem nossa sociedade, que participam da história da cidade e que compõem o panorama da população desta região belo-horizontina.

Seu Aílton, um chaveiro que acompanhou o desenvolvimento do Buritis

Seu Aílton, em frente ao seu posto de trabalho, em mais um dia intenso de atividades. Foto: Amanda Alves.

Hoje nós conhecemos Ailton Pereira de Amorin, um chaveiro que está na profissão há quarenta anos, e trabalha no Buritis há dois, ao lado de uma banca na Av. Mário Werneck. Seu Ailton mora no Estrela Dalva, bairro vizinho do Buritis. Quando iniciou no trabalho, aqui na região, “era só mato”. Ele viu, literalmente, os bairros nascerem e crescerem. Sua mãe veio do interior, da cidade de Paraopebas, e seu pai nasceu em Belo Horizonte.

Seu Ailton conta que aprendeu a profissão com seu irmão. A família parece ter estabelecido uma tradição: ao todo, são cinco chaveiros. Seus equipamentos de trabalho também foram herança. Uma das máquinas que ele utiliza, por exemplo, tem mais de 20 anos. Os filhos de seu Ailton, no entanto, não se interessaram em seguir a profissão do pai e, atualmente, trabalham como motoristas de aplicativo. Além de chaveiro, Seu Ailton é funcionário do Minas Tênis Clube, onde cumpre jornada das 22:00 as 6:00, de segunda a sábado.

A história de seu Ailton remete a um tempo que está em lenta desaparição. O da profissão familiar, transmitida por gerações. Das máquinas e instrumentos de trabalho que duram décadas e que, no lugar de serem substituídas, são reparadas e continuam na função. E das pessoas que testemunharam o nascimento deste bairro que hoje é um dos mais populosos e dinâmicos de Belo Horizonte.

Temtem: o vendedor rapper que ajudou a construir o bairro

TemTem, em frente ao seu camelô, na avenida Mário Werneck. Foto: Amanda Alves.

Nosso segundo personagem é José Martins da Silva, o Temtem, um camelô que vende suas mercadorias também na avenida Mário Werneck. Temtem é rapper, com mais de 20 composições autorais e trabalha como vendedor informal no Buritis há quase dois anos. A função que exerce, hoje, nas ruas, foi consequência de uma operação pente fino no INSS executada pelo governo federal em agosto de 2021. Temtem, diagnosticado como pessoa com esquizofrenia, teve sua pensão cortada e foi obrigado a buscar uma renda alternativa.

“Eu ajudei a construir a maioria desses prédios”, conta Temtem sobre o trabalho na construção civil, que exerceu quando criança e adolescente. Casado, com 51 anos, ele também é pai de duas filhas, uma de 25 anos e a outra de 28. Trabalhar com algo que não ocupe muito a mente é um desejo seu para os próximos anos, porque o stress agrava os efeitos da esquizofrenia. Apesar de ser algo comum entre crianças, Temtem nunca teve uma definição exata do que gostaria de fazer no futuro.

O rap a seguir é de sua autoria. O primeiro de uma série de 20, quando buscava estratégias para vender seus produtos nas ruas. O texto é foi exatamente o que consolidou seu apelido.

RAP DO TEMTEM

A você que me ouve te convido, vem,

E dê uma atenção pra banca do Temtem,

Vem e dê uma olhada é sem compromisso,

O que importa é a educação, te admiro por isso,

Temtem o melhor preço na mercadoria,

Temtem vende barato toda hora e todo dia

Temtem tem pilha, Temtem tem fone,

Tem cabo USB tem tem microfone,

Tem tem mercadoria que te quebra o galho,

Tem até despertador pra te acordar pro trabalho.

Temtem tem brinco de pedrinha e de pedrão

Se não quer furar orelha também tem brinco de pressão

Temtem tem piercing, cartilagem e sobrancelha,

E tem alargador pra qualquer furo de orelha.