Um novo conceito de festa na laje para o isolamento social

Por Hanie Ferraz

Com o intuito de fazer algo diferente, para os vizinhos se divertirem um pouco no período da quarentena, causada pelo novo coronavírus, Matheus Fernandes, proprietário da Burgueria Burgerest, realizou, no sábado passado, o terceiro show na laje. O evento trouxe um retorno bastante positivo, tanto para o empresário, quanto para a população do bairro Buritis.

A ideia dos shows ao vivo veio após Matheus receber um vídeo pela internet, onde um cantor italiano fazia um show de dentro de casa e os vizinhos podiam acompanhar sem quebrarem as regras do isolamento social. Essa atitude italiana, que viralizou nas redes, deu ainda mais vontade à Matheus de fazer algo semelhante, ao perceber que não seria impossível colocar a ideia em ação. Sua principal motivação foi ver a dificuldade das pessoas em ficar em casa por tanto tempo.

Colocando em prática, então, os convidados que subiram ao terraço nesse último sábado (02/05) foram a dupla Mau Mau e Ariel. Eles agitaram o fim de tarde no bairro Buritis com repertório que ia desde mpb, samba, reggae e pop rock, até rap nacional, em um show de aproximadamente 3 horas de duração.

Segundo Maurício (Mau Mau), um dos músicos da dupla, ter colaborado para trazer um pouco de leveza, através da arte, à vida de algumas pessoas, foi uma experiência incrível, além de conseguir conscientizar sobre a importância de ficar em casa nesse período.

De acordo com o dono da burgueria, o retorno da população pelos shows tem sido bem positivo, algo tão bom, que ele nem imaginava. “Não esperava algo tão positivo, pessoas que nunca havia conhecido, nem conversado, me mandaram mensagens agradecendo o momento que criamos, até pessoas de outras cidades postaram sobre nossa ação e isso foi muito gratificante!”, comemora o empresário.

AUMENTO DE VENDAS

Matheus Fernandes disse, ainda, que o retorno positivo refletiu em suas vendas pela internet, pois se tornou mais conhecido e apreciado na região. Segundo uma pesquisa feita pela consultoria E-bit, e apresentada em uma matéria feita pelo G1.com, as vendas online cresceram em vários setores durante o isolamento social, alimentos e bebidas cresceram 40%.

Outro comerciante do Buritis que também foi afetado positivamente com a quarentena e, consequentemente, aumentou as vendas online, é o Kleuber Leann, um dos sócios da pizzaria Bitela Pizza. O empresário usa, como e-commerce, os aplicativos de entrega e também as redes sociais. Segundo ele, as vendas do delivery tiveram um aumento de aproximadamente 30% em relação ao último mês.

“Com o aumento da demanda de pedidos em aplicativos e redes sociais, tivemos que contratar mais dois motoqueiros, além dos dois que já tínhamos, e aumentamos também a quantidade de pizzaiolos na cozinha aos fins de semana, para ajudar nessa demanda de quarentena”.

PÚBLICO SATISFEITO

A estudante Isabela Regina, moradora do bairro Buritis há 3 anos, assistiu aos dois últimos shows ao vivo promovidos na laje do empresário Matheus Fernandes e disse, ao Jornal DaquiBH, que nunca viu um momento de descontração assim, realizado proprietários do comércio local, sem cobrar nada, simplesmente por fazer o bem. A estudante disse, ainda, que “amou a iniciativa e que espera por mais momentos como esse”.

Igor Carvalho, também morador do Buritis, acompanhou o último show de sua janela. Ele afirma que tem gostado bastante da iniciativa. ”Não só dos shows ao vivo, mas também de outros artistas que estão se prontificando a trazer mais entretenimento para dentro das casas, através das lives”, ressalta.

E o que são as lives?

Microfone, violão, figurino, luzes, toda uma preparação, mas não para um show como estão acostumados. Artistas de todo o mundo têm investido em shows ao vivo na internet, transmitidos através das plataformas digitais Youtube, Facebook ou até mesmo do Instagram, e isso vem trazendo mais harmonia e tranquilidade para a população dentro de casa no período da quarentena, cenário vivido por muitos países.

COMO A MÚSICA PODE SER TERAPÊUTICA

No atual momento em que vivemos, 1/3 da população mundial está sob algum tipo de regime de isolamento social. A rotina de 2,8 bilhões de pessoas passou a ser a família e as paredes de casa. Muitas dessas pessoas, que foram pegas de surpresa, viviam uma vida agitada, de trabalho, trânsito, transporte público, filhos na escola, faculdade, lazer e, de repente, tudo parou.

De acordo com a psicóloga e psicanalista Leda Lima, “nesse novo cenário social, pode-se observar diversos sintomas psíquicos decorrentes do confinamento, inclusive alguns já preexistentes, porém, mais potencializados que antes. Sintomas como ansiedade e pânico estão em mais evidência e podem ser prejudiciais à saúde mental desses seres humanos”, por isso, é de grande importância o tratamento psicológico/analítico nesse momento.

A psicóloga reforçou que, como é de responsabilidade do cidadão ficar em casa, a tecnologia tem ajudado muito nessa questão, “pois a prioridade sempre será a saúde mental dos pacientes”. Leda acrescentou ainda que é muito importante ter um bom hábito alimentar, praticar exercícios físicos regularmente e fazer terapia, pois são grandes aliados da saúde mental, incluindo a música.

“Claro que nem todas as pessoas amam música, mas sabemos que ela pode sim ser terapêutica e com certeza faz muito bem para alguns indivíduos. Tenho escutado isso de alguns pacientes.”

O neurocirurgião Dr. Gilberto Henrique concorda com Leda. Segundo ele, o poder que a música tem de aproximar pessoas, unir povos, é impressionante. “Eu não conheço nenhum grupo social que não inclua música”. Gilberto explica que a música é um estímulo auditivo e, quando entra no cérebro, se transforma em muita coisa, como alegria, tristeza, lembrança, excitação, calma e, por isso, nesse momento de quarentena, a música tem permitido a aproximação entre as pessoas.

O neurocirurgião ainda citou como exemplo um dos seus pacientes, que tinha problemas de inquietação, “uma criança extremamente agitada”. O médico afirma que ficou impressionado quando a mãe mostrou uma música e o menino simplesmente se acalmou. “Foi como se tivesse desligado a agitação do paciente e aquilo foi fabuloso para mim, pois aquilo era a terapêutica dele, ele não precisava de remédio, ele precisava de música”, se emociona Gilberto.

Serviço: a burgueria onde tem acontecido os shows está localizada na Rua Líbero Leone, número 28.
Jornal Daqui BH

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