Tecnologia: os desafios encontrados na terceira idade

Por Anna Elisa Oliveira, Ariel Thêmis , Patrick Lima, Thamiris Fiorino e Arthur Scafutto

É notável o crescimento do número de brasileiros com idade acima de 60 anos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2050, os idosos corresponderão a 66,5 milhões de pessoas, 29,3% da população.

A estimativa da mudança no perfil da população é para 2030, quando o número absoluto e o percentual de brasileiros com 60 anos ou mais vai ultrapassar o das crianças de 0 a 14 anos. Daqui a 14 anos, os idosos serão 41,5 milhões de pessoas (18% da população), e as crianças 39,2 milhões (17,6%).

Veja a pirâmide etária – Brasil e Minas Gerais, feita pelo IBGE:

Fonte: IBGE

Ainda segundo dados do IBGE, referentes ao ano de 2014, 36,8 milhões de casas estavam conectadas à internet, o que representa 54,9% do total. Em 2013, o índice era de 48%. A pesquisa indicou também que a quantidade de internautas chegou a 54,4% das pessoas com mais de 10 anos em 2014. São 95,4 milhões de brasileiros online e o índice de idosos conectados aumenta continuamente.

Nada menos que 5,2 milhões de pessoas acima dos 60 anos têm acesso à internet no País – 21% da população na terceira idade. É o que revela pesquisa do Instituto Locomotiva, liderado por Renato Meirelles.

Camila Maciel, professora de Filosofia e Ciências Humanas, no Departamento de Comunicação Social, da UFMG, explica que há um movimento que leva os idosos a utilizarem as novas tecnologias.

“Quase tudo atualmente passa por ambientes digitais, o pagamento de contas, fazer compras em sites de e-commerce, são utilizações cada vez mais presentes no cotidiano. Há então um direcionamento desses indivíduos idosos para a inserção e utilização dessas tecnologias”, completa a professora.

Considerando que, no Brasil, o processo de aposentadoria tem início com idades de 60 anos para as mulheres e 65 para os homens, pode-se pensar nas mudanças que irão ocorrer no modo de vida desses indivíduos após a aposentadoria.

Provavelmente, além da diminuição de renda, haverá a perda da inserção social devido às dificuldades encontradas para que aposentados/idosos se mantenham atualizados.

Dentre os principais fatores para promover a melhoria da utilização dessas tecnologias pelos idosos destaca-se a oportunidade de atualização, trabalhar e/ou acompanhar conversas à mesa com a família. Professora Maciel, descreve:

“Um fator que se percebe muito no caso dos idosos é a interação social. O contato com as redes sociais proporciona a comunicação com laços mais fortes como filhos e netos, esse é um dos motivos principais para essa utilização. O WhatsApp, Facebook e Skype, por exemplo, são utilizados por esse grupo para comunicar e interagir com a família”.

A profissional ainda diz que a utilização das tecnologias por idosos não é uma obrigatoriedade, mas auxilia essas pessoas no processo de interação.

Maria Matos (63), conta:

“Gosto muito de ver e compartilhar vídeos e fotos de flores, receitas e bichinhos fofos nas redes sociais, minhas amigas às vezes comentam e compartilham também. Eu mando mensagens de ‘bom dia’ toda manhã para minha filha que mora longe, e para os meus netos também”.

 

Perfil Facebook – Maria Matos

Segundo o Médico Geriatra Daniel Azevedo, o Facebook é menos utilizado por essa faixa etária, mas alguns utilizam para manter contatos sociais. Então, mesmo que o idoso não utilize ativamente, alguns utilizam para compartilhar informações e fotos, como eventos e datas em família.

Essa interação permite também a comunicação com amigos, pessoas queridas ou familiares distantes e que não possuem um convívio diário, mas acabam mantendo uma relação à distância.

“Para a saúde dos idosos, que é uma fase em que muitos possuem carência na área emocional, pode contribuir bastante”, diz Dr. Azevedo.

Mesmo com a inserção da terceira idade aos aplicativos, dispositivos e redes sociais, discute-se como os idosos realizam o contato com estes softwares. As dificuldades são muitas, e, entre elas, está o difícil entendimento das letras pequenas e a utilização das funções dos dispositivos móveis e smartphones.

​O aposentado Valdir Pedro (73), expõe a sua dificuldade: “Eu sempre tenho que pedir ajuda para meus netos, filhos, sobrinhos ou alguém que esteja perto e possa me ajudar. Eu até tento entender e usar sozinho, mas acabo esquecendo e não tenho facilidade em encontrar o que quero no meu celular, muitas vezes não consigo nem mesmo encontrar os contatos que procuro”.

​Sobre esse aspecto, a  Maciel relata: “a acessibilidade não é pensada nem mesmo para as pessoas que não possuem deficiências graves. É um assunto amplo, mas tratado com descaso. Exige um conhecimento maior do diagramador, e o mercado, em grande parte, não se preocupa com tal problema”.

A profissional explica que, para o desenvolvimento de interfaces, é necessária uma pesquisa aprofundada sobre o perfil do usuário. Mas, essas análises possuem custo elevado e nem todas as empresas estão dispostas a arcar com esse investimento.

Portanto, o acesso para a terceira idade encontra-se em um nível muito precário, devido às limitações que estes possuem. “Até mesmo os programas feitos para esses indivíduos precisam ser pensados em questões específicas. Por exemplo, criar um programa altamente sensível à tela é um erro, pois essas pessoas já possuem resistência em utilizar esses novos aparatos tecnológicos. A acessibilidade já não é pensada para nenhum usuário, muito menos para pessoas idosas”, destaca a professora.

Ainda de acordo com o Geriatra Azevedo, o uso de smartphones é menor devido a limitações físicas. “Nessa faixa etária, também por problemas visuais maiores, ferramentas como Whatsapp, são bem menos utilizadas. A maior parte dos pacientes que entram em contato comigo preferem utilizar o e-mail porque a tela do computador é maior, o teclado é simples de digitar. Então é mais fácil para se corresponder do que pelo pela ferramenta whatsapp”, explica.

Já existem alguns programas que são pensados para maiores de 60 anos com o objetivo de estimular a memória e outros parâmetros. A pesquisa para esses projetos exige um engajamento multidisciplinar entre a comunicação, computação e a neurociência.

​A neurociência é fundamental para identificar os sintomas da velhice como perda da memória, enfraquecimento, prostração, etc. Desta forma, aplicativos que avaliam esses fatores cooperam como um auxílio e forma de tratamento para esse grupo através da tecnologia. Porém, esses programas estão apenas em fase de desenvolvimento. E, além disso, é necessário um investimento para que estes cheguem ao mercado. “Não se vê no mercado uma empresa realmente interessada em desenvolver essas técnicas”, conclui a Maciel.

 

Dr. Azevedo

“Ainda assim, parte desses idosos utiliza essas novas tecnologias. A experiência que eu tenho, como Profissional, é que esses idosos já são um pouco mais sábios quanto a esse uso, embora não acessem de forma excessiva”, explica Dr. Azevedo.

 

Assim, um indivíduo da terceira idade que antes não se inseria nesses aparatos digitais, pode, por exemplo, ter mais ativação do equilíbrio emocional e mental. “Particularmente, vejo com bons olhos o que a tecnologia, a internet e os smartphones têm a oferecer para todas essas faixas etárias”, conclui o Geriatra.

No Bairro Buritis

Mas nem todos encontram dificuldade frente às novas tecnologias. No Buritis, há  aqueles que se adequaram bem às mudanças. Antônio Vaschetto (68), morador do bairro há 14 anos, sempre foi figura assídua na evolução das tecnologias desde que trabalhava com isso.

Antônio Vaschetto – Foto fornecida

 

 

“Para ter mais facilidade e acessar e entender, necessita-se de muita curiosidade. Na verdade, curiosidade e paciência”, frisa Antônio. “Claro que não conseguimos fazer tudo na primeira vez em que tentamos, ainda mais quando se está sozinho”.

 

 

 

 

Tanto Antônio, quanto sua esposa, Mírian (50), são voluntários da Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) e usufruem dos serviços das redes sociais e das novas tecnologias.

Outra moradora da região se adptou com facilidade foi Alvanir Moreira (66), embora tenha necessitado um pouco mais de investimento para aprender a manusear as redes sociais. “Fiz muitos cursos para me informatizar; estou até um pouco desatualizada pois parei quando me aposentei. Eu trabalhava em uma biblioteca, estava surgindo a informática, e então tive que fazer vários cursos para me atualizar”, diz a aposentada.

Segundo ela, hoje em dia, como a maioria dos idosos, usa a internet para manter o contato com seus entes queridos.

 

Arthur Scafutto

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