Por Amanda de Almeida, Gabriel Corrêa, Mariana Campos
Segundo dados do portal Minas em Números, do governo do estado, desde 2012 os números de crimes violentos, em Belo Horizonte, superam 180 mil ocorrências. O mesmo levantamento afirma que 3.478 homicídios ocorreram na cidade, no mesmo período.
Todas essas informações servem para representar a sensação de medo que a população belo-horizontina, inclusive do Buritis e região, convive diariamente. Em plano nacional, o cenário permanece o mesmo. Pesquisa do Datafolha, realizada em 2016, mostra que 76% dos cidadãos brasileiros têm medo de morrer, enquanto outros 85% possuem pavor de serem agredidos por criminosos.
Entretanto, no caso da Região Oeste – onde está localizado o Buritis – tal sensação nem sempre é justificada. Segundo o Diagnóstico de Incidência de Roubos em Belo Horizonte, organizado pela Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), a localidade não está entre as zonas quentes do crime de Belo Horizonte. Ou seja, há pelo menos nove regiões nas quais a criminalidade possui números superiores.
“Quando há essa sensação de insegurança, nós tentamos ir até a pessoa, tranquilizá-la e mostrar que o bairro não é tão inseguro quanto as pessoas pensam. Nós fazemos um patrulhamento preventivo eficiente, até pelo índice de criminalidade ser o segundo menor de Belo Horizonte. Os dados mostram isso”
– Major Celante, comandante da 126ª Companhia da PMMG, responsável pelo Buritis e região.
Já a III Conferência Municipal de Política Urbana, promovida pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, concluiu que a Região Oeste – ao lado da Região Norte, de Venda Nova e do Barreiro – passa por um momento de redução da desigualdade social, fator diretamente atrelado à violência urbana.
Porém, segundo o psicanalista e professor de Medicina Social da UERJ, Benilton Bezerra Júnior, em entrevista concedida ao portal Panorâmica Social, a pobreza nem sempre é sinônimo de violência, o que poderia gerar análises equivocadas. De acordo com ele, essa desigualdade tende a refletir no campo da segurança, principalmente em sociedades que enaltecem a posse do dinheiro e bens como expressão de sucesso.
O mundo líquido
Todo esse cenário, segundo a socióloga Regina Amorim, pode ser explicado pelo conceito de mundo líquido, cunhado e explorado pelo intelectual polonês Zgymunt Bauman. O período contemporâneo é classificado como pós-moderno e é justamente neste tempo que a insegurança do homem tem aumentado.
Na opinião do comandante da 126ª Companhia da PMMG, Major Celante, a insegurança possui um caráter pessoal, uma vez que, mesmo com o policiamento adequado, as pessoas ainda podem se sentir abaladas.
Dessa maneira, o conceito de Bauman é evidenciado na Região Oeste de Belo Horizonte. O momento é classificado, pelo intelectual, como uma “era das incertezas”. Esse sentimento atinge não só as relações sociais de um determinado grupo, como foi visto nos casos supracitados dos moradores do bairro Buritis e região, mas também nos mais diversos campos do conhecimento: desde a política, até a economia.
O papel do poder político
Em entrevista ao documentário “Medo e Mídia”, o psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg vê a situação de insegurança diretamente relacionada ao poder político. Segundo ele, os representantes do povo, ou seja, os políticos, para manter suas hegemonias no cenário social, reverberam visões exageradas quanto à violência no Brasil. Dessa maneira, eles criam uma espécie de conformismo na população, que, acuada pelo que consome destes depoimentos, se mantém em permanente “estado de susto”.
Apesar disso, vivemos em uma sociedade, inclusive no bairro Buritis, com altas taxas criminais. Porém, o fenômeno é mundial, e não exclusivo da região, como alguns moradores pensam. Nos Estados Unidos, por exemplo, principal economia do mundo, está concentrada a maior população carcerária do planeta, com mais de dois milhões de pessoas. Essa condição, segundo Goldberg, está relacionada ao sistema capitalista, que, para sobreviver, leva parte da população a um “processo de transgressão”.
A intervenção do jornalismo
A mídia, segundo a socióloga e professora Regina Amorim, também possui papel fundamental para intensificar a sensação de medo da população. De acordo com ela, as pessoas compartilham opiniões e acontecimentos, principalmente nas redes sociais, sem antes checar a veracidade deles. Assim, uma série de boatos é espalhada entre os cidadãos, o que contribui para ampliar o receio da violência em nossa sociedade.
“A gente vê que, a mídia, de uma maneira geral, trata de casos (de violência) muito isolados, que não são significativos nem corriqueiros. Isso vai sendo fixado no intelecto das pessoas, então elas vão assistindo e entendendo que a violência tem se proliferado.”
– Regina Amorim, professora e socióloga
Neste momento, a mídia é vista pela audiência, quando ela assume a simples e única função de consumir a informação, como uma espécie de mito. Este conceito, na sociologia, indica algo ou alguma coisa vista de maneira incontestável e dogmática, assim como as crenças religiosas são para seus fiéis.
No Buritis, recentemente, circularam informações, em grupos de um aplicativo de trocas de mensagens, sobre o desaparecimento de uma criança. Após o compartilhamento das fotos, os moradores constataram que se tratava da filha de um comerciante local. Entretanto, após o fato ser apurado junto à 126ª Companhia da Polícia Militar, foi constatado que se tratava de uma inverdade.
“Utilizando ferramentas de comunicação pelo celular, as pessoas estão integradas para alertar e transmitir informações que sejam relevantes no contexto de segurança”
– Bráulio Lara, presidente da Associação de Moradores do Bairro Buritis
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