por Mylene Alves
Mais de um ano se passou desde o início da pandemia de Covid-19 e existem casos, associados à contaminação pela doença, que não são de grande conhecimento da população. Crianças e adolescentes, desde o início considerados os menos afetados, são alvo de uma dessas condições: a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica.
Essa síndrome acomete pacientes com um quadro inflamatório que, segundo a pediatra, infectologista e professora da UFMG, Lilian Martins, é temporalmente associado à infecção pelo vírus transmissor da Covid (o SARS-CoV-2) por sua identificação ter sido logo em período de pandemia. A síndrome normalmente se manifesta de duas a quatro semanas após a infecção pelo vírus, tendo a criança sido um paciente assintomático ou não. No entanto, os sintomas não são causados pelo próprio vírus, mas sim pela reação do organismo a essa infecção.
Lilian explica que sintomas como febre por mais de três dias, problemas digestivos como dor abdominal, náusea, vômito, diarreia, lesões de pele, olho vermelho, manchas vermelhas na pele e, em alguns casos, alteração no funcionamento do coração podem ser apresentados. Todos esses sintomas, associados a um quadro inflamatório importante, que vai ser notado pela febre mas, principalmente, por meio de exames laboratoriais alterados, é que podem levar ao diagnóstico. Ela ressalta também a importância de um histórico que demonstre contato com o vírus (SARS-CoV-2) e o descarte da possibilidade de outras doenças. “A gente precisa procurar outras doenças e não achar nada que explique esse caso”, afirma ela.
A grande dificuldade dessa síndrome é no diagnóstico e no descarte de outras doenças. Os sintomas se misturam muito com o de doenças mais comuns, então não ajudam muito. A desconfiança pode vir quando uma febre durar mais de três dias e vier acompanhada de alguns dos sintomas citados anteriormente.
“É interessante que os pais, então, procurem atendimento, para que o médico possa ver se esses sintomas são de uma outra doença comum da infância, ou se faz sentido a gente pensar nessa síndrome inflamatória, principalmente se essa criança tiver tido contato com Covid cerca de um mês atrás. Esse diagnóstico diferencial tem que ser do pediatra mesmo. É muito difícil”, observa Lilian.
Quando questionada sobre ações que devem ser tomadas pelos pais, Lilian disse que, caso a febre e os sintomas passem de três dias, mas a criança esteja consideravelmente bem, vale a pena tentar uma teleconsulta no primeiro momento, não precisa levar ao pronto socorro imediatamente.
“Ligue para seu médico de confiança ou para o posto de saúde de sua região, explique o quadro de sua criança, se houve um possível contato com o vírus da Covid, e veja se uma consulta presencial se faz necessária”, reforça, “não há como tratar em casa, já que a medicação é feita por meios venosos”.
Para atendimentos presenciais, o hospital referência indicado por Lilian é o Hospital Infantil João Paulo II, que atende pelo Sistema Único de Saúde, o SUS.
O diagnóstico assusta mas, segundo Lilian Martins, há um tratamento eficaz para a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica que, apesar de ser caro, pode ser feito inteiramente pelo SUS.
“Quando o médico suspeita, existe o que fazer. Para essa infecção tem um remédio e a resposta é muito boa, não conheço criança que não tenha respondido. Não precisa apavorar, é diagnosticar e tratar”, aponta.
A síndrome pode deixar sequelas, mas, normalmente, não são duradouras. A professora e pediatra apontou que alguns casos resultam em um problema no coração que, apesar de ser delicado, após um mês, normalmente, se resolve.
Os números de casos ainda não são considerados alarmantes. Em Minas Gerais, segundo o último boletim epidemiológico semanal da Secretaria de Estado de Saúde (SES), foram confirmados 85 casos da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, e uma morte, em Juiz de Fora. Lilian explicou que, nos quadros da doença, cerca de 70% das crianças precisam ir para a UTI. “São casos graves, mas a taxa de mortalidade é bem baixa”, pondera.
A média de idade entre os infectados no Brasil e, principalmente, em Minas Gerais, é em torno dos 4 anos. Mas, de acordo com Lilian, quando olhamos para dados mundiais, é possível ver uma média superior, que vai dos 8 aos 10 anos de idade. Os dados variam de acordo com o país do qual se colhe as informações.
Pesquisando sobre a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, é possível encontrar estudos que classificam afrodescendentes como os maiores atingidos. A pediatra nos explicou que os hispânicos também entram nesse grupo, e que essa constatação se dá em comparação aos asiáticos, região em que não são identificados tantos casos quanto nas Américas e na Europa. “É um ‘achado’, não existe uma certeza”, opina.
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Material de grande valia. Excelente explicação e conteúdo bastante rico. Parabéns para a escritora e jornalista, continue neste caminho.
Excelente explicação!
Muito importante a matéria. Se antes não nos preocupávamos com essa faixa etária, agora devemos redobrar os cuidados.
Os jovens não estão imunes e também devem ficar em casa.
Parabéns,matéria excelente, informações como esta tem q ser compartilhadas, precisamos de mais profissionais como está.Parabens.