Projeto do Buritis completa 5 anos de atendimento à idosos

Por Mylene Alves

A Associação ao Projeto A Melhor Idade, mais conhecida como Asprami, completa cinco anos de existência e trabalhos no bairro Buritis. Com o lema “Pague menos e doe mais”, a Asprami é uma organização sem fins lucrativos, que visa manter limpos os acamados, fornecendo fraldas geriátricas aos que não têm condições de comprar e oferecendo atividades voltadas para a terceira idade. “Ir onde ninguém vai nos dá a possibilidade de ajudar pessoas que não são conhecidas pela sociedade, ou que são conhecidas mas foram esquecidas”, diz Mirian, idealizadora do projeto.

A ideia começou a tomar forma quando Mirian identificou a necessidade olhando para o Vale do Jequitinhonha, lugar de onde veio, e região que tornou prioridade. “Saí da minha cidade com 17 anos, deixando uma filha com um ano e meio de idade, vim para a cidade grande tentar a sobrevivência. Olhar para trás e enxergar a necessidade alheia me fez correr para fazer por meus conterrâneos o que não fizeram por mim” conta ela.

A idealizadora do projeto afirma que sempre fez doações, e seu trabalho com fraldas geriátricas começou quando uma mãe necessitada lhe abordou pedindo ajuda. Mirian conta que, hoje, consegue manter 37 “filhos” limpos. Com o passar do tempo, começaram também a oferecer aulas e atividades para a comunidade, com foco maior em idosos, e receberam do Centro Universitário UniBH uma oportunidade de usar os espaços da universidade.

Em um ambiente maior, a integração também aumentou. Aulas de dança, yoga, violão, tricô, dentre outras, começaram a ser oferecidas em uma estrutura boa. Além disso, a Asprami começou a receber também alunos com dificuldade motora, principalmente em suas aulas de zumba.

O curso mais procurado é o de libras, chegando a 600 interessados, o que mostra que o projeto vem sendo bem recebido pela sociedade e, segundo Mirian, tem sido assim desde o início. A manutenção financeira é viabilizada pelos professores, que recebem o pagamento dos alunos pelas aulas (valor baixo) e repassam 30% desse valor para a associação, além de algumas doações externas.  

RESULTADOS

Até aqui, pelo o que soubemos sobre a Asprami, já dá pra imaginar o quão importante ela é na vida de quem participa. Mas, entramos em contato com Rejane Reis, 54 anos, moradora do bairro Buritis e participante do projeto há anos, para que nos contasse sobre sua experiência.

“Antes eu estava sedentária, e foi maravilhoso ver meu corpo mexer de novo com a zumba. Hoje, eu e minha mãe não vivemos mais sem a Asprami. Pra ela foi como um medicamento, a memória melhorou, a vontade de viver… tudo voltou! Antes tínhamos uma rotina sem muita perspectiva, algo normal, mas hoje sabemos da existência do projeto, que vai muito além das aulas e do nosso bem-estar… ele vai lá no Vale do Jequitinhonha, leva fraldas, roupas e nossa gratidão!” conta ela.

Segundo Rejane, os professores são qualificados, e o preço cobrado é acessível. Ela completa afirmando que a mudança na vida de quem participa é notável, principalmente a alegria. “Tantas senhorinhas são ouvidas e têm no projeto um momento de alegria, de autonomia…são muitas conversas e boas risadas”.

Muitas vezes, o trabalho de socialização dos idosos fica por conta de propostas como da Asprami, e para as entrevistadas, a importância é imensurável.

“Vejo a associação como uma gota no oceano, e o oceano não existiria sem tantas gotas! A troca, ver a necessidade do outro, perceber que o pouco doado pode ser muito pra quem recebe… o projeto acende essa luzinha em quem participa. Doar vai muito além de entregar um pacote de fraldas, faz abrir a mente, desarmar a tristeza, e esquecer um pouco dos problemas quando encontro com minhas colegas.” diz Rejane.

Para Mirian, idealizadora e presidente do projeto, a maior conquista é a certeza de que conseguiu ajudar muita gente nesses 5 anos, seja com suporte material ou emocional. “Doação é alimentar a alma de gratidão!”, exclama Mirian.

PANORAMA DA TERCEIRA IDADE

Apesar da expectativa de vida estar mais alta, e de termos no Brasil cerca de 22 milhões de pessoas com mais 65 anos, a sociedade ainda não está preparada para as responsabilidades que vêm por consequência. O Estatuto do Idoso assegura que é direito deles ter acesso à serviços como saúde, esporte, lazer, e convivência comunitária, é dever da família e da sociedade os oferecer isso. Mas contrariando expectativas, o Disque Direitos Humanos (Disque 100) registrou um aumento de 13% no número de denúncias de violência contra idosos em 2018.

A realização de atividades físicas e culturais, e a socialização, estão diretamente ligadas ao bom envelhecimento, afinal, por muitas vezes a aposentadoria vem acompanhada de uma “perda de identidade” e pela necessidade de se redescobrir. O que pode nos fazer entender a razão de a taxa de suícidio ser maior entre idosos com mais de 70 anos, segundo informações do Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil de 2017.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS

Com o surgimento da pandemia causada pela Covid-19, as atividades presenciais tiveram que ser suspensas. Atualmente, o funcionamento se limita ao bazar, onde tudo se transforma em doações. A associação tentou voltar com o lazer, praticando dança no Parque Aggeo Pio Sobrinho, que também fica no Bairro Buritis, mas tiveram que interromper mais uma vez, por decorrência de um novo aumento no número de infectados da cidade.

PARA PARTICIPAR

Para participar, como aluno ou como cooperador, o contato pode ser feito através do WhatsApp: (31) 998783245, ou pelo e-mail: aspramioficial@gmail.com.

Mirian ainda fez um apelo: “Gostaria de pedir a todos que me ajudem a manter o Asprami vivo, só assim posso continuar fazendo a diferença na vida dos mais necessitados, e também na vida das pessoas que acreditam numa integração onde todos somos iguais.”.

Jornal Daqui BH

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