Por Luisa Guimarães

Com a crise causada pela COVID-19, o governo brasileiro, por meio do Ministério de Saúde, decretou o cancelamento de eventos. Em Belo Horizonte, a situação não está diferente. As casas de show, buffets e espaços de eventos estão passando por uma grande crise que não tem previsão de acabar.

No fim do ano passado, esperava-se que, em 2020, o mercado de eventos passasse por um grande crescimento, de acordo com a Eventbrite, uma plataforma online de criação de páginas para eventos.

A pesquisa abordou uma amostra de aproximadamente 6.800 pessoas. Dentre elas, 51% são organizadores de eventos no Brasil. O estudo afirmava que 78% desses organizadores brasileiros fariam mais eventos em 2020 e aumentariam a suas equipes em 66% para atender as demandas.

Porém, com a proibição de eventos no Brasil, em geral, cerca de 800 eventos já foram cancelados, de acordo com o UOL Economia. Sendo assim, o mercado de eventos enfrenta, em duas décadas, a sua pior fase.

SALVE A GRAXA

Com os eventos cancelados, diversas profissões foram prejudicadas e, por isso, surgiu o movimento “Salve a Graxa”, um projeto realizado em Belo Horizonte. A profissão dos montadores de eventos, técnicos de áudio, vídeo e iluminação, carregadores e entre outros, é conhecida no meio como “graxa”.

Estes trabalhadores tiveram a sua renda cortada em função da ausência de trabalho e muitos deles estão em condições precárias de vida, por não possuírem outra forma de sustentar as suas famílias.

Pensando nisso, o movimento “Salve a Graxa” busca arrecadar dinheiro para a compra de cestas básicas e doação para essas pessoas.

TEMPO DE MUDANÇA

Para sobreviver à crise, muitos espaços de eventos estão se reinventando e se adaptando da melhor maneira possível.

Tiago Maior, promotor de eventos do Clube Chalezinho, uma das boates mais tradicionais de Belo Horizonte, que fica no bairro Buritis, fala sobre a adaptação do negócio neste tempo de crise.

“O Chalezinho é uma grande empresa, responsável por diversos restaurantes e boates espalhados no Brasil, mas claro que sente o impacto do fechamento da boate no Buritis, pelos altos lucros gerados por lá. Porém, neste momento, estamos buscando o planejamento para voltarmos. Agora, estamos reforçando as nossas ações de marketing via Instagram para aguçar o desejo do nosso público em voltar a frequentar o espaço.”

MERCADO DA MÚSICA

Além do tempo de planejamento para os grandes espaços, alguns DJs, cantores e dançarinos, também sofrem com a ausência dos eventos e precisam se planejar.

A festa junina, tradicional em Belo Horizonte, também precisou ser adiada, prejudicando os dançarinos.

João Lisboa, do Royale Sound, dupla de DJ’s de música eletrônica, conta como a pandemia tem impactado o seu trabalho. “Na música eletrônica, o que gera renda para nós são os shows e tivemos mais de 10 cancelados. Porém, os gastos aumentaram, porque utilizamos muito dos recursos de mídia paga, contratamos ferramentas de uso diário para a nossa linha de produção das músicas, entre outros gastos.” Para isso, eles entenderam que é necessário se adaptar ao momento que estamos vivendo.

“Agora estamos criando novos conteúdos. Fizemos alguns quadros nas nossas redes sociais, mostrando mais sobre o nosso dia a dia, curiosidades sobre nós, até nos aventuramos na cozinha. Isso é para fazer com que as pessoas não se esqueçam da gente e ficarmos em evidência. Além disso, estamos produzindo músicas e fechando parcerias importantes para nossa carreira, o que será muito importante para quando voltarmos a nos apresentar.”

ESPECIALISTA EM EVENTOS

O especialista em eventos, Sandro Reis, nos concedeu uma entrevista falando sobre a sua experiência profissional na área e como lidar com a crise no mercado de eventos.

Sandro Reis, especialista em eventos com experiência de 15 anos na área.
Foto: Ceir Junior.

Jornal DaquiBH – Como é lidar com dados tão divergentes da realidade atual, quando falamos sobre a tendência de crescimento do mercado em 2020 que existia?

SR – Nos últimos 3 anos, o setor de eventos vem se unindo e se organizando numa velocidade maior como nunca antes. Um exemplo disso é uma das entidades como a ABRAPE – Associação Brasileira de Promotores de Eventos, que reúne hoje associados que representam cerca de 60% do PIB de eventos no Brasil, algo que até pouco tempo atrás não se imaginaria existir na organização do nosso setor em nosso país.

Estamos engatinhando ainda quanto a possuir dados confiáveis que abrangeriam todo o setor, pois uma parte significativa do setor ainda opera na informalidade, mas o que vemos na prática é que o setor de eventos é um dos mais prejudicados com a pandemia do novo coronavírus. Atualmente, os dados que temos, devido a pandemia, divulgados pela ABRAPE, é de que 51,9% dos eventos previstos para ocorrer este ano foram cancelados, adiados ou estão em situação incerta. Outro dado assustador, também divulgado pela entidade, é o de que cerca de 580 mil profissionais da área poderão perder os empregos em todo o Brasil. É uma lástima.

Jornal DaquiBH – Na sua visão, quais são os profissionais do ramo que mais são prejudicados com este momento?

SR – Na verdade, toda a cadeia de trabalho foi afetada. Produtores, artistas, técnicos de som, imagem e estrutura, empresas de segurança. Enfim, toda a cadeia. Somos o setor que paramos primeiro e devemos retornar por último.

Jornal DaquiBH – Como os produtores de eventos podem se planejar para enfrentar a crise?

SR – Se reinventar. Hoje estamos vivendo a “era das lives“, numa estrutura digital, que demanda toda a segurança quanto a saúde no que se refere ao distanciamento social, e alguns profissionais do setor de tecnologia, cenografia, som e luz, têm se adaptado a essa realidade, conseguindo alguns trabalhos. Porém, o setor é muito maior do que essa nova estrutura possa absorver.

Jornal DaquiBH – Analisando a situação atual e entendendo sobre as medidas de segurança para eventos, você acha que no ano de 2020 é possível ver algum evento acontecer?

SR – Eventos presenciais como somos acostumados eu acredito que não aconteçam em 2020.