Mês da mulher reforça a necessidade de representação feminina no mercado de trabalho

Por Giullia Gurgel

8 de março, Dia Internacional da Mulher, é uma celebração criada em 1917 como um marco na luta por direitos igualitários. Mais de 100 anos depois, no entanto, boa parte das condições ainda não se igualam às dos homens. 

De acordo com a pesquisa da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), apesar de o número de mulheres (51,7%) ser superior ao de homens (48,3%), no Brasil somente 13,6% das vagas de liderança são ocupadas pelo gênero feminino.

Talita Bezerra, pesquisadora de tecnologias emergentes aplicadas à logística 4.0 e Diversidade e Inclusão nas organizações, afirma que, apesar da temática de Diversidade no campo organizacional ter surgido na década de 80, apenas nos últimos 4 anos houve um movimento forte de aderência das corporações à gestão da diversidade, alinhado a um movimento de nova cultura.

“Quando falamos de inclusão e equidade de mulheres nas organizações, alguns estudos apontam que levaremos de 150 a 200 anos para alcançar uma paridade entre os gêneros. Sabemos que acelerar esse processo não é fácil e que não existe um plano perfeito, é necessário que as empresas tenham estratégia em nível alto de hierarquia, foco para que o tema não seja tratado apenas quando “sobra” tempo, engajamento das pessoas e recursos para que essa inclusão ocorra na prática”, observa a pesquisadora.

A luta por espaço no mercado

Simone Fiscina, gerente de Gestão de Pessoas na Ânima Educação, aponta que o critério especial utilizado desde o processo de recrutamento que auxilia as mulheres é não distinguir gênero na seleção.

“No mercado, há muita diferença, na Ânima, não. O número de mulheres em cargos de liderança e diretoria já responde por si. Posso exemplificar que em 2016 participei de um processo seletivo para a vaga de líder de gestão de pessoas, estava grávida e fui aprovada. Como GP já selecionei professoras grávidas. Temos, por muito tempo , mais mulheres do que homens em cargos de liderança”, afirma Simone.

As mulheres, que por muito tempo ficaram em casa, cuidando dos filhos e da casa, hoje estão conquistando o mercado de trabalho de forma exemplar e precisam de cada vez mais espaço para mostrarem seu potencial.

Contudo, ainda é comum que empresas não tenham mulheres em seu quadro de funcionários, ou contem com uma quantidade muito pequena de pessoas do gênero feminino ocupando alguma posição dentro do negócio.

“Infelizmente vivemos em um mundo machista, onde mulheres muitas vezes precisam estudar e trabalhar muito mais para conseguir um lugar no mercado. A dica para as mulheres é que nunca se sintam inferiorizadas por gênero. A sua competência e segurança no seu trabalho vão te ajudar a crescer. Quanto mais mulheres competentes tivermos atuando e crescendo no mercado, mais conseguiremos quebrar essa cultura. É fácil? Não. Não é! Mas por mais difícil que seja, é assim que conquistaremos o nosso espaço”, indaga a líder na área de gestão de pessoas do UniBH.

Lucro para as organizações

Foto: Freepik/Reprodução

Segundo a pesquisa elaborada pela McKinsey, na América Latina, empresas com mulheres em cargos executivos têm 50% mais chances de aumentar a rentabilidade e 22% de melhorar a média do indicador Ebitda, que avalia o desenvolvimento financeiro de um negócio.

Sim, além dos inúmeros benefícios, as mulheres podem dar lucro às organizações.

“O que falta atualmente são as organizações promoverem um acesso igualitário a essas posições, revendo os seus processos de promoção e os vieses da liderança atual que costumeiramente é composta por homens que se identificam com o seu próprio gênero na tomada de decisão das promoções. As ações voltadas para o desenvolvimento de mulheres com potencial de liderança através de mentorias e treinamentos podem contribuir para esse acesso igualitário”, aponta Talita Bezerra.

Empresas têm investido na conscientização da luta feminina

O Burger King lançou uma campanha de conscientização de gênero recentemente, mostrando o tempo de espera de 267 anos para pedidos de delivery, equivalente ao tempo pelo qual as mulheres terão de esperar para receber salários iguais aos dos homens. A 99 Pop lançou a promoção “99 Mais Mulheres”, que oferece uma bonificação de R$ 300 para novas motoristas que se cadastrarem como parceiras do aplicativo dentro do período promocional.

Foto: Burger King/Divulgação

Além disso, a Caixa Econômica Federal oferece, durante todo o mês de março, um pacote especial de benefícios para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Em reconhecimento à data, foram preparadas condições especiais em produtos e serviços do banco, como empréstimos, seguros e promoções.

Para a mestre em Comunicação Social (UFMG) e pesquisadora sobre gênero, deficiência e comunicação, Fatine Oliveira, essas são ações importantes para visibilizar a pauta, mas não resolvem a estrutura social que mantém as mulheres, em especial as mulheres com deficiência, fora das organizações.

“É preciso mobilização social, elaboração de leis e mecanismos para investigar se estão sendo cumpridas. É preciso uma mudança interna nos valores da empresa, por exemplo. É importante salientar isso para não reduzirmos uma luta contra um sistema de hierarquia de gêneros, construída historicamente, a uma publicidade com apelo comercial. Acredito que iremos alcançar novas formas de trabalho, mais horizontais, inclusivas e com respeito à diversidade, mas para isso precisamos nos posicionar diariamente, seja no ambiente de trabalho, seja politicamente”, observa a especialista.

Atualmente, a sociedade tem feito discussões frutíferas sobre o mercado de trabalho para mulheres, mas ainda há pontos que devem melhorar. As barreiras que as mulheres ainda enfrentam no mercado de trabalho mostram que nem só de recrutamento e metas quantitativas são feitas as políticas de diversidade.

“Precisamos melhorar muito ainda porque não existe um debate sobre a situação de mulheres com deficiência no mercado. Apesar de se discutir muito sobre acessibilidade, não temos um recorte de gênero nessas discussões. Não se fala sobre os impactos do assédio, baixo salário, licença maternidade na vida dessas mulheres, por exemplo”, aponta Fatine Oliveira.

 

Jornal Daqui BH

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