Por Iris Aguiar
Com o avanço da pandemia, muitos setores aderiram ao home office, mas nem todos os profissionais podem deixar seus postos físicos de trabalho. Na linha de frente, além dos médicos, há forças de segurança e salvamento, que desde o início do cenário pandêmico seguem com um importante trabalho ininterrupto.
Os policiais, mesmo com a pandemia, continuaram seu trabalho de maneira presencial, mas foram adotadas medidas de segurança. A assessoria da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) afirma que todas as medidas de contingenciamento da disseminação do coronavírus fazem parte da rotina de tais profissionais, como disponibilização de equipamentos de proteção individual e de produtos para higienização aos servidores, além da alteração no atendimento ao público para evitar a aglomeração de pessoas nas unidades policiais.
Paralelamente, há monitoramento daqueles que, comprovadamente, estão contaminados pelo coronavírus. A PCMG afirma que há realização de testes para a retomada do serviço presencial. Entretanto, o depoimento dos policiais sobre a realidade nas delegacias contradiz essa fala.
A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), com relação às medidas de proteção, informa que a instituição distribuiu álcool em gel e máscaras para as guarnições de todo o estado e divulga, para toda a tropa, vídeos com orientações a respeito da higienização, não só da viatura policial, mas também da assepsia de todo fardamento do policial militar.
A assessoria de imprensa da PCMG explica que, por medidas de estratégia de segurança não poderia passar a informação do número de policiais civis infectados. A instituição esclareceu que o quantitativo de servidores afastados por apresentarem sintomas gripais e/ou respiratórios, bem como os que tiveram confirmação da Covid-19, não compromete a prestação de serviço.
De acordo com a Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG), mais de 7 mil militares testaram positivo para a Covid-19. A assessoria da Polícia Militar esclarece que a Diretoria de Saúde da instituição tem acompanhado todos os casos de suspeita e de contaminação por COVID-19 de seus policiais militares e que o número não é divulgado por questões de segurança.
A tentativa de liberação de vacinas para a polícia vem sendo feita desde o dia em que foi oficializado o calendário de vacinação nacional. A previsão de chegada das doses para as forças de segurança era junho deste ano, entretanto, na 11º remessa de vacinas, somente 4205 profissionais do Estado de Minas Gerais foram imunizados com a primeira dose.
A quantidade de doses recebidas cobre apenas pequena parte do contingente de profissionais de segurança e, embora a vacinação tenha começado na primeira semana de abril, muitos policiais ficarão sem tomar a dose, se expondo ao vírus diariamente.
Em boletim, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) esclarece que o quantitativo de doses de vacinas contra a Covid-19 disponibilizado para os públicos prioritários é determinado pelo Ministério da Saúde (MS), conforme o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 (PNO). A remessa foi disponibilizada para as Unidades Regionais de Saúde, tendo como base o número de trabalhadores das categorias dos profissionais das Forças de Segurança e Salvamento, informado pelos municípios, de acordo com a Nota Técnica nº 297/2021, do MS.
A partir desse quantitativo, foram distribuídos os 6% determinados pelo MS para as categorias. Conforme orientado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), está prevista a imunização de policiais militares, policiais civis, bombeiros, policiais penais, agentes socioeducativos, guardas municipais, policiais federais e rodoviários federais, além de representantes do Exército.
Na 12ª remessa, 58.230 pessoas foram contabilizadas pelo PNI como público alvo das Forças de Segurança e Salvamento para dar sequência à distribuição da primeira dose (D1). Este número é referente a profissionais da segurança de todo o Estado, o que deixa evidente que, no panorama geral, o atraso para compra de vacinas impactou na vacinação de diversas categorias. Ainda que as vacinas estejam sendo aplicadas, inúmeras vidas de profissionais da segurança já foram perdidas.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que a prioridade para a aplicação das vacinas será discutida e os profissionais que atenderem aos requisitos serão encaminhados aos postos de vacinação. A prioridade nesta etapa estão os profissionais da categoria envolvidos em atendimento e transporte de pacientes, resgates e atendimento pré-hospitalar, ações de vacinação contra Covid-19 e de vigilância das medidas de distanciamento social, com contato direto e constante com o público, independentemente da categoria.
O Investigador de Polícia Civil, Eduardo*, que trabalha na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, expressa a sua opinião sobre a atividade policial durante a pandemia.
“Trabalhar como policial é estar na linha de frente, é um serviço primordial, pois essenciais todos serviços são. Infelizmente, os crimes não deixam de acontecer, até mesmo têm um aumento, pois pessoas à beira da necessidade se sujeitam à marginalidade, não é ético nem moral, porém as necessidades básicas não atendem regras da moral e ética, então a polícia tem o dever de agir e tentar manter um controle social”, aponta.
O policial, que contraiu o coronavírus, explica como foi conviver com a doença.
“Eu contraí Covid numa operação policial, passei onze dias internado, infelizmente com nenhum apoio ou amparo da instituição, a não ser a cobrança do atestado para justificar os dias em que não compareci. Os primeiros sintomas foram diarreia, febre, perda do olfato e paladar, dor na caixa torácica. Tive que fazer o teste e constatar a Covid por meio de exame particular, no hospital da Polícia Civil eles não forneceram nenhum suporte, por não ter condições e estrutura. Durante o tratamento, pelo IPSEMG, fui diagnosticado com pneumonia. O tratamento pelo IPSEMG foi muito bom. Após ter me curado, voltei à atividade e nada mudou, todos os cuidados e orientações tiveram que ser bancados pelos servidores, o estado nada forneceu, nenhum insumo (álcool, máscara ou qualquer EPI), vários colegas tiveram Covid e passaram pela mesma situação”, reclama.
O militar Rodrigo*, que trabalha na Região Oeste da capital, no Centro de Material Bélico da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), também deu seu depoimento sobre o momento em que esteve contaminado.
“Meus primeiros sintomas foram gripais. Outros colegas estavam se sentindo mal, fizeram exame e foi confirmado se tratar de Covid-19. Em seguida, também fiz e deu positivo. Não voltei mais para casa, me exilei na roça. Passaram-se dois dias e minha esposa testou positivo, ainda sim continuei na roça. Senti somente um pouco de fraqueza e cansaço no final dos dias. Não tive febre e nem falta de ar. Trabalhar é desafiador, não fiquei em home office nem um dia, pelo contrário, trabalhei dobrado na atividade administrativa e operacional. Sempre preocupado com as medidas sanitárias e com o comércio em geral. Pude perceber o quanto o brasileiro é egoísta e não tem consciência social, vi vários casos de pessoas que não se preocupam com o próximo”, relata o policial.
Em lista divulgada na PCMG, nesta terça-feira(11), 827 policiais da Região Metropolitana de Belo Horizonte foram convocados para a vacinação da primeira dose.
*Para preservar a identidade dos policiais entrevistados, utilizamos nomes fictícios ao escrever esta reportagem.
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