Por Giullia Gurgel e Melissa Carvalho
A família mineira consome cada vez menos e segue com dificuldade de pagar os produtos que precisa para viver. Com a queda na intenção de consumo dos mineiros em janeiro, o índice que mede a intenção de compra apresentou redução de 1,4 ponto, atingindo o valor de 71,4, contra 72,8 pontos registrados em dezembro de 2021.
Com esse resultado, o indicador permanece no nível de insatisfação. Os valores compõem a pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), elaborada mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) tem como principal função produzir um indicador excepcional, com a maior precisão possível, sobre a percepção que as famílias têm sobre seu nível futuro de propensão a consumir em curto e médio prazos.
Segundo a Fecomércio MG, os motivos para a queda na intenção de compra das famílias são, principalmente, as altas da inflação e dos juros.
“O consumo familiar é prejudicado principalmente pela alta da inflação, que vem impactando setores essenciais como o de transportes, habitação e alimentação. Acrescido a isso, acompanhamos uma alta taxa de desemprego que, apesar da redução nos últimos meses, ainda se mantém bastante elevada. Outro fator é o aumento do trabalho informal, que muitas vezes se traduz em um achatamento da renda das famílias”, explica Gabriela Martins, economista do Fecomércio.
O gráfico abaixo aponta o índice de intenção de consumo desde o mês de janeiro de 2020 até janeiro deste ano. Veja:
Com a pandemia da covid-19, é possível observar que, a cada dia, os produtos ficam mais caros, enquanto a inflação e as taxas de juros aumentam, conforme dados comprovados pela CNC. Sobretudo, a redução repentina de renda e a incerteza do futuro fizeram com que as pessoas reduzissem seus consumos, mantendo a expectativa de poder voltar a sanar suas demandas em um período em que houvesse maior segurança.
Rosete Gomes Seabra, de 80 anos, mora no Buritis e trabalha como açougueira desde 1957. A profissional conta como seu ramo de trabalho foi afetado com o aumento do preço da carne e os desafios que vieram com a pandemia.
“Antigamente as pessoas compravam muito mais carne de primeira, mas agora os únicos clientes que conseguem comprar esse tipo de carne mais cara são empresas grandes como restaurantes e pizzarias. As pessoas normais, de família, estão comprando agora só carne de segunda, que é mais barata, e mesmo assim estão com dificuldade para comprar”, afirma.
Nesse sentido, a açougueira também observa que o consumo de carne já estava ficando ruim nos últimos anos devido ao aumento de preço, porém, com a pandemia, a situação piorou.
“Quando abri o açougue com meu marido, nós tínhamos muito clientes e éramos muito populares. Mas, com o passar do ano, com o preço da carne ficando tão alto, perdemos muito clientes e, com essa pandemia, as coisas ficarão muito mais difíceis”, indaga.
Em janeiro de 2022, Minas Gerais apresentou uma queda menos significativa comparado aos meses anteriores. Apesar disso, mais uma vez o indicador se manteve no nível de insatisfação, abaixo dos 100 pontos, fronteira que sinaliza otimismo por parte do consumidor.
Gabriela Martins explica que a maior dificuldade dos consumidores mineiros continua sendo a alta da inflação e o encarecimento do crédito, devido ao aumento da SELIC – taxa básica de juros da economia. Sendo assim, é necessária uma melhoria dos indicadores macroeconômicos, como os ligados ao emprego, aos preços e ao crédito.
Logo, é possível reverter essa situação de baixa intenção no consumo. Para que isso aconteça, a inflação deve diminuir e o real voltar a ser valorizado, ocorrendo uma redução de meio circulante (soma do total de cédulas e moedas em circulação) na economia e a oferta e demanda de bens encontrem um equilíbrio.
“Já para conter o desemprego, é esperado que, com a retomada da economia, os setores ociosos se reaqueçam e passem a demandar mão de obra, sanando assim esse desequilíbrio”, observa a economista.
De acordo com Gabriela Martins, as famílias devem ter maior controle orçamentário, calculando os seus gastos e tendo sempre uma reserva de emergência para eventuais contratempos.
Além disso, tais famílias devem procurar sempre o melhor custo-benefício em suas compras, procurando os melhores preços e as melhores formas de pagamento para conseguirem contornar os danos na renda causados pela inflação e pelo encarecimento do crédito.
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