Por Rebeca Nicholls
A última pesquisa realizada pela “Serasa Experian” aponta uma preocupante realidade brasileira, em que cerca de 66,6 milhões de pessoas estão em situação de inadimplência. Esse cenário é também resultado de um Brasil que sofreu muito com a pandemia do CoronaVírus e que possui três em cada 10 famílias com algum tipo de insegurança alimentar, segundo estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN).
Em entrevista ao Jornal DaquiBH, o especialista em finanças Robson Evangelista analisou os dados mostrados pela pesquisa do Serasa Experian e trouxe sua visão sobre o assunto inadimplência.
A grande e principal razão é a inflação que tem alcançado dois dígitos desde o ano passado. Isso implica bruscamente na capacidade de pagamento da população em geral, principalmente porque esses altos índices dizem respeito a alimentos que são essenciais para o bem-estar das pessoas e que não podem deixar de serem adquiridos.
Em decorrência deste fato as contas e compromissos assumidos que não são essenciais, ficam em segundo plano, mesmo porque essas contas e tarifas também aumentaram e acompanharam os efeitos da inflação.
Outras razões importantes a serem analisadas são a baixa dos salários e alta da Selic, com negociações salariais inferiores o poder de compra diminui, agravando ainda mais a situação e com esse grau de endividamento e taxas de juros em alta, honrar os compromissos, tornou-se uma tarefa ainda mais complicada.
Com a elevação de preços e baixo poder de compra os brasileiros precisam tomar uma decisão entre pagar o cartão de crédito, comprar comida ou ainda manter água e luz ativos em suas residências, com isso o nível de inadimplentes com cartões e cheques especiais tende a crescer em momentos como esse no país e mundo.
Outro fator importante para esse índice é o mau uso dos cartões e cheques especiais pela população brasileira em geral. Muitas vezes esses créditos são usados como um complemento salarial, isso é um enorme risco e erro, pois caso ocorra mudança, urgência e emergência não se consegue pagar o mesmo ou paga-se o mínimo com juros de até 370%, tornando-se uma dívida impagável.
Os principais fatores são aumento do desemprego, que por sua vez reduz o poder de compra e renda das famílias, ausência de orientação para se ter uma educação voltada para as finanças em geral, descontrole com consumo e gastos, atrasos de recebimentos em decorrência da fragilidade atual da economia e podemos citar também as enfermidades causadas pelos efeitos pandêmicos.
Resolver uma situação como essa requer tempo, pois mesmo que pareça, não foi construída somente após a descoberta no Coronavírus, apesar de ter sido um fator propulsor nestes índices. Conforme dito acima as regras e formas de consumo realizadas de forma inadvertida, aumento nas possibilidades e facilidades de se conseguir créditos e economia totalmente fragilizada levam as pessoas e o país para uma situação muito complexa.
Com relação as soluções, gostaria de lembrar que toda e qualquer ação do governo na economia pode e irá gerar consequências futuras e isso também é um dos fatores que nos trouxe até aqui, mas uma reeducação financeira da população, suporte a vigência dos programas de crédito emergencial, parcelamento de tributos para empresas e pessoas, trabalhar de forma firme e veemente na reforma tributaria e algumas ainda não vistas, como redução de despesas com funcionalismo público, são possíveis soluções que podem retardar os efeitos destes índices.
Conforme frisamos a economia e situação da inadimplência são efeitos em cadeia, quando um ou alguns se desequilibram toda a cadeia será desestabilizada, com isso a população com menor poder de compra e maior índice de endividamento começa a fazer escolhas do que e como pagar as principais contas de sua família e casa para que possam se manter ativas e conseguir viver de forma mais digna e saudável, com isso algumas contas mesmo que essenciais se tornam secundárias diante de alimentação e saúde em geral.
O Brasil passa por um efeito gigante na economia e algumas medidas econômicas e sociais tomadas, agravam ainda mais a situação das empresas, pessoas e máquina pública, com isso e com tudo que foi relatado até aqui que atingiu diretamente a população em geral, todos temos que tomar decisões e escolhas na prioridade de pagamentos.
Os desafios são grandes e todos devem trabalhar, economizar nas despesas da máquina pública, reforma tributária (arrecadação) e reformulação das empresas e economia do país para que voltemos a ser bem-vistos e quistos pela economia internacional, para que as mesmas invistam em nosso país e acreditem em nosso desenvolvimento.
Será um trabalho de longo prazo e que requer uma visão também de longo prazo, não apenas curto prazo ou por um mandato. Os políticos que serão eleitos precisam analisar sobre como deveríamos pensar na gestão financeira de nossas empresas e vidas, não exclusivamente em seu mandato, pois eles mesmos ou seus sucessores precisam de estabilidade para que o Brasil consiga avançar num todo e almejar novas possibilidades no futuro.
Primeiramente procurar ajuda de pessoas próximas, de empresas ou pessoas que trabalham com gestão financeira, para conseguir ter uma opinião e dicas sobre a sua situação, pois estando do lado externo do problema a visão é mais ampla e assertiva, ajudando a encontrar novas saídas e possibilidades.
Mas você pode iniciar anotando suas dívidas e as prioridades de forma essencial para o seu bem-estar físico e mental e também de juros/multas cobrados por cada dívida. Consulte seu CPF constantemente para manter o nome limpo para utilizar em situações emergenciais, anote também todas as suas receitas e despesas em uma planilha ou caderno, pois visualizar essas contas ajuda na tomada de decisões de forma mais assertiva e evita gastos compulsivos. Renegocie suas dívidas assim que conseguir economizar ou que seu poder de compra, seja retomado, e por fim uma sugestão mais complexa, mas que funciona em alguns momentos, esqueça as dívidas e trabalhe em formas de reconstruir e construir outras fontes de renda até que tenha condições de retomar as negociações com seus credores.
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