Por Beatriz Fernandes
Em março (18), noticiamos o caso da morte de mais de 60 cães durante o transporte de Ribeirão Das Neves para a unidade do abrigo temporário Entre Latidos e Miados, em Contagem. A principal hipótese era de que os cachorros haviam sido envenenados durante a viagem. Isso porque, ao chegarem na cidade metropolitana, foram encontrados restos de salsicha em vômito de um dos cachorros, alimento que não havia sido dado pelo abrigo aos cachorros. Ao chegar no local, 69 cães, dos 74, já estavam mortos.
O Hospital Veterinário do UniBH, no bairro Buritis, foi responsável por atuar na necrópsia dos mais de 60 cães, por dois dias e meio. Logo após o procedimento, os órgãos coletados foram destinados ao IML (Instituto Médico Legal) para realização do exame toxicológico. Confira aqui a matéria completa.
O médico veterinário e professor do UniBH responsável pelo serviço, Aldair Pinto, nos contou que a instituição teve atuação no caso somente durante esses dois dias e meio de necropsia. Entretanto, explicou que a participação foi fundamental para a investigação do caso. Afinal, o profissional é o único professor em Belo Horizonte com pós-graduação em Medicina Veterinária Legal.
“O que a gente fez foi imprescindível, porque a Polícia Civil não tem um espaço para fazer uma necropsia de cachorro. Sem contar também que o nosso corpo docente tem a experiência de trabalhar com a medicina veterinária legal, que é a parte da veterinária que trabalha com a perícia”, explicou Aldair.
Na última semana, no dia 14 de julho, a investigação do caso levou à uma conclusão surpreendente. A Polícia Civil constatou vários crimes de maus-tratos por parte do abrigo temporário, além da presença de um remédio para envenenamento de ratos, popularmente conhecido como chumbinho, e concluíram que havia sido usado para que a displicência do transporte fosse descartada.
Além disso, Aldair disse que, antes mesmo de começarem a necropsia, já suspeitavam da hipótese. Isso porque, ele e mais um aluno do UniBH, chegaram a ir até o abrigo e constataram que a estrutura do local não era adequada. Mesmo durante a necropsia, Aldair conta que essa hipótese foi fortalecida:
“A necropsia mostrava indícios de vestígios do que a gente encontrou [o remédio para envenenamento de ratos]”.
“Após terem provocado a morte de alguns cães, por realizarem um transporte de forma inadequada, envenenaram o restante dos animais que ainda tinham chances de sobreviver, com o intuito de ocultar a causa da morte dos primeiros cães dentro do caminhão e preservarem sua imagem frente ao trabalho que vinham desenvolvendo no lar temporário”,
explicou o delegado Rodrigo Bustamante, chefe do 2º Departamento de Polícia.
Ainda sim, a polícia averiguou que a dona do abrigo havia recebido a quantia de R$30 de cada dono para que o transporte fosse feito adequadamente, mas como o caminhão não apareceu, a viagem acabou sendo feita em um tipo de transporte de carga, sem a acomodação e ventilação corretas.
Após a constatação da Polícia Civil, os donos do abrigo afirmaram inocência, ressaltando a qualidade e competência do abrigo. Os responsáveis pelo transporte, por sua vez, declararam que, em dado momento da viagem, quando os cachorros pararam de latir, o marido de Claudia Araujo, dona do abrigo, não atendeu ao pedido para que parasse o caminhão para conferir se estava tudo bem, pedindo para seguir com o trajeto.
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