Doar sangue é doar vida

Por Thayane Domingos

A pandemia provocada pelo novo Coronavírus assolou diversos hemocentros do país. Tal cenário ganha um aspecto notável ao observar que, no Brasil, o número de doares de sangue caiu drasticamente. 

O contexto é categórico: a Organização Mundial de Saúde (OMS) orienta que cidadãos cumpram um regime de isolamento social em virtude da alta taxa de contaminação da doença. Ainda assim, as doações de sangue continuam se fazendo necessárias. 

Dados do Hemocentro de Minas Gerais apontam que os estoques de sangue do tipo negativo estão com baixa de 27%; do tipo positivo chegam a uma queda de 35%. Em Pernambuco, os estoques passam por um momento crítico: o número de doadores caiu mais de 50% nos meses de abril e maio e continuam a baixar. O Amazonas  também teve números de doadores baixos, chegando a 40%. 

Esses números atrapalham grande população que precisa de sangue. Assessoria da Fundação Hemominas faz uma alerta sobre a queda de doações.

“O que podemos observar é que antes da pandemia as pessoas não estavam em isolamento social. O grande desafio em relação ao Coronavírus é o avanço rápido da doença e que requer, como parte da prevenção, o isolamento. Sabemos que todos estão ansiosos, cercando-se de cuidados de higiene e evitando sair de casa, como é a recomendação. Entretanto, a demanda transfusional não para e, muitas vezes, não pode esperar. Nosso papel é sensibilizar a população sobre a importância e urgência da doação de sangue”, relata a assessoria do Hemominas.

Segundo o Ministério da Saúde, o número de doadores de sangue regulares é de apenas 1,8%, número que fica abaixo dos 2% ideias, definidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).  Por essa razão, o dia 25 de novembro é dedicado Doador de Sangue: para agradecer, incentivar e conscientizar a população sobre a importância dessa ação para manutenção da vida, sobretudo no contexto pandêmico que se apresenta. 

Estoque de Banco de Sangue

Os bancos de sangue já estão em seu limite. Todos os tipos sanguíneos são necessários. Na Fundação do Hemominas, por exemplo,, falta nos estoques os tipos positivo e negativo. Neste momento, os estoques dos tipos sanguíneos positivos estão com queda média de 45%. Já os tipos sanguíneos negativos apresentam queda média de 30%.  Os tipos sanguíneos que registram maiores quedas nos estoques são: O Positivo (-60%);  A Positivo (-55%); O Negativo (-40%); A Negativo (-25%); e B Negativo (-50%).

Para a Assessoria do Hemominas, o dia 25 de novembro é extremamente importante, mas o momento também reforça a importância de doar sangue com frequência, e não apenas na data. “Ressaltamos que todos os dias são muito importantes para que as pessoas possam exercer esse gesto de solidariedade que salva vidas”, reforça. 

Coleta de sangue – Foto: Assessoria da Fundação Hemominas

Espalhar Informações

Durante a semana de 23 a 28/11, a campanha “Somos Todos do Mesmo Sangue”, no Instagram do Hemominas, faz uma chamada com artistas e doadores voluntários para tecer comentários sobre como é gratificante doar sangue. 

Para que todos possam saber mais informações sobre doação de sangue, alguns gestos podem ajudar.  A estudante de obstetrícia, Rafaella Vieira, de 24 anos, acredita que a disseminação de informações é um dos principais pilares na (des)construção de algumas questões sobre a doação de sangue. “Várias ideias enganosas constroem o imaginário social que acaba aumentando a resistência das pessoas para a doação, tais como problemas graves decorrentes da doação, muita dor ou consequências ruins para o próprio corpo. Além disso, existem tabus no Brasil que também prejudicam o cenário de doação de sangue, como é o caso da permissão para homossexuais doarem sangue que começou somente agora em 2020”, completa Rafaella.

Vale lembrar que, neste ano, o Supremo Tribunal Federal – STF, fez mudanças no protocolo para doação de pessoas GBTQI+, legalizando a doação de sangue. Universalizando as doações, todos os centro de doações de sangue já estão preparados. “O Hemominas procedeu com todas as adequações necessárias nos protocolos de atendimento, orientando-se pela isonomia no atendimento a todas as pessoas que se candidatam à doação, sendo esta, inclusive, a melhor forma de enfrentamento do preconceito de qualquer ordem na doação de sangue e a população LGBTQIA+ vem respondendo de maneira muito positiva”, relata a assessoria de comunicação. 

Não existe outra forma de ajudar se não doando sangue. É necessário conscientizar as pessoas. “Precisamos, como sociedade, fortalecer e compreender o fato de que não temos outra fonte/forma de obter sangue, componente essencial para a vida, a não ser pela doação de sangue. Menos de 2% da população brasileira doa sangue, o que não supre a demanda do nosso país”, diz Rafaella. Para isso acontecer de forma mais efetiva e com informações corretas, “os órgãos governamentais de saúde poderiam utilizar meios de telecomunicações, redes sociais, cartilhas informativas em postos de saúde e entre outros meios  que incentivem e informe a população sobre o assunto”, afirma a estudante.

  Supremo Tribunal Federal derruba restrições para doação de sangue de homossexuais – Foto: Assessoria de Comunicação Fundação Hemominas

 ONG Amar é Simples: ação para doação

A importância do incentivo ao voluntariado é notável. A ONG Amar é Simples tem o foco principal em promover o voluntariado, construindo um vínculo de afeto entre voluntários e as pessoas atendidas pelo projeto. A ONG criou o projeto Heróis em Ação, que surgiu com o desejo de transformar a doação em hábito nos voluntários.

“Nosso lema é em 40 minutos podermos salvar 4 vidas. Nossa intenção é que o voluntário abrace a ideia de se tornar um doador constante e que também convide amigos e familiares para doar. Temos voluntários que nunca tinham doado e viraram doadores assíduos por causo do projeto”, conta Maria Luisa, coordenadora do projeto. 

Para aumentar os doadores,  a ONG ainda incentiva que os voluntários, no dia da doação, levem mais três pessoas, mas as restrições para doação sempre acabam diminuindo o número de doadores. 

A publicitária e moradora do bairro Gutierrez, Ana Clara Leite, voluntária no projeto, conta que sempre teve vontade de doar sangue. “Desde sempre eu tenho vontade de doar sangue. Quando fiz 16 anos, tentei o processo de autorização, mas tinha menos de 50k. Comecei a doar com 18 anos”, conta. 

Muitas pessoas começam a doar sangue depois de precisar de doação. É o caso da Rafaella Vieira. “Eu precisei de doação de sangue em 2013 e quando me recuperei em 2014, senti que deveria “devolver” isso de alguma forma. A partir de então começamos a construir o projeto de doação de sangue, Heróis em Ação, da Amar é Simples. Quando fez 1 ano da minha cirurgia, comecei a doar sangue”, fala a estudante de obstetrícia.

Além disso, hoje Rafaella é referência entre seus amigos e familiares. “Isso me deixa feliz, porque pelo menos a minha volta, algumas pessoas começaram e continuam a doar sangue regularmente”, completa.

Rafaella Vieira no meio junto com suas amigas, no projeto Heróis em Ação – Foto: Rafaella Vieira

FAKE NEWS

Existem alguns mitos em relação à doação de sangue. O tamanho da agulha, os efeitos da doação e como é feito a coleta são alguns deles. No entanto, a doação não traz nenhum prejuízo ou risco para quem realiza. Todo o procedimento realizado para doação de sangue é feito com segurança. Os equipamentos são de última geração e todos os profissionais recebem treinamentos constantes.

“A triagem clínica é rigorosa e o candidato só doa sangue se estiver em boas condições de saúde. As informações prestadas são mantidas em rigoroso sigilo e são de fundamental importância para a boa qualidade do sangue que será transfundido nos pacientes. O material utilizado é descartável e não há risco de contrair doenças durante o procedimento. A cada doação há uma nova avaliação clínica e o sangue é submetido a rigorosos testes laboratoriais”, ressalta a assessoria de comunicação do Hemominas. 

Pandemia e doação de sangue

A Covid-19 trouxe mudanças categóricas. Por isso, o incentivo às doações são muito importantes. Maria Luisa, coordenadora do projeto Heróis em Ação, fixa isso com os voluntários. “Ainda que durante a pandemia não tenhamos promovido edições do projeto, para evitar aglomeração, sempre incentivamos as doações isoladas, compartilhando fotos dos voluntários que doaram”, frisa. 

Mesmo com a pandemia, o incentivo às doações continuam. Quanto mais as pessoas procurarem se informar sobre o quão importante é o procedimento e as restrições impostas, mais elas poderão se planejar para se tornarem doadoras. “Muitas pessoas têm como meta, doar sangue, mas acabam deixando em segundo plano por não saberem onde doar e como marcar.  Então nosso projeto auxilia dando um empurrãozinho, dando uma data exata e orientações sobre agendamento”, afirma Maria Luisa. 

Lembrança para quem participa do Heróis em Ação. Foto: Rafaella Vieira

Doações de Sangue no período Pandêmico

O Hemominas permanece em trabalho, com todas as medidas de segurança, e reforça que os hemocentros são locais seguros. Afinal, para doar sangue, a premissa básica é estar saudável. Atenta às recomendações do Ministério da Saúde, a Fundação intensificou os procedimentos de higienização e prevenção como a obrigatoriedade do uso do álcool gel/líquido70% nas mão, de qualquer doador ou pessoa que entrar nas unidades, e a reorganização das salas de espera das unidades para garantir distanciamento de, no mínimo, 1 metro entre doadores. 

Com o objetivo de organizar o fluxo de atendimento, evitando aglomerações para que as doações de sangue ocorram da forma mais segura possível, a Fundação Hemominas está atendendo, neste momento de Pandemia, apenas por agendamento prévio. Assim, é orientado a população para que faça o agendamento de suas doações online (www.hemominas.mg.gov.br) ou pelo MGapp – Cidadão.

 Fique atento(a) às regras: 

 Coronavírus (SARS, MERS e 2019-nCov)·

  •         Candidatos à doação de sangue que tenham se deslocado ou que sejam procedentes de países com casos autóctones confirmados de infecções pelo COVID-19 deverão ser considerados inaptos por 14 dias após o retorno destes países, desde que se mantenham assintomáticos. Para este critério, considerar as informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46482-27-paises-sao-monitorados-pelo-ministerio-da-saude. Obs.: Esse critério está mantido pelo Ministério da Saúde, até o momento, apesar do Brasil já ter sido reconhecido como local de transmissão comunitária;
  •         Candidatos à doação de sangue que foram infectados pelos vírus COVID-19, após diagnóstico clínico e/ou laboratorial: inaptos por 30 dias após completa recuperação (assintomáticos e sem sequelas que contraindicam a doação);
  •         Candidatos que tiveram contato com pessoas que apresentaram diagnóstico clínico/laboratorial de infecção pelo COVID-19 deverão ser considerados inaptos pelo período de 14 dias, após o último contato com essas pessoas;
  •         Candidatos à doação de sangue que permaneceram em isolamento voluntário, ou indicado por equipe médica, devido a contato com pessoas com sintomas de possível infecção pelo COVID-19 deverão ser considerados inaptos pelo período que dura o isolamento (no mínimo 14 dias), se estiverem assintomáticos;
  •         Candidatos que apresentam resfriado comum, sem história de viagem para áreas endêmicas ou contato com pessoas provenientes dessas áreas: apto 30 dias após o término dos sintomas.
Jornal Daqui BH

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