DIFERENÇAS SOCIAIS AO LONGO DA AVENIDA RAJA GABÁGLIA

Por Beatriz Fernandes

Para quem passa diariamente pela Avenida Raja Gabáglia, é fácil notar como a paisagem vai mudando conforme os números vão aumentando. Com duração de 20 minutos à 1 hora , dependendo do trânsito, o trajeto de 6km de extensão percorre desde prédios espelhados e concessionárias de luxo, até pichações e vielas. A avenida é a principal via de acesso para dois bairros da região Oeste, que têm realidades opostas: o Buritis e o Morro das Pedras. 

BURITIS

O bairro Buritis é o terceiro com melhor IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de Belo Horizonte segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil). Com o índice em 0,943, fica atrás somente dos bairros Lourdes (0,955) e Belvedere (0,951).  No levantamento, três indicadores são analisados: longevidade (expectativa de vida longa e saúde), educação (estudo e acesso ao conhecimento) e renda (padrão de vida), sendo 0 o menor índice e 1 o maior.

Segundo último levantamento do IBGE, a população do bairro já ultrapassa 29 mil moradores. A história do seu nome é muitas vezes relacionada com a árvore Buriti. Entretanto, a origem dele vem pelo pedido de uma amiga da família detentora das terras da região, que era fã de Guimarães Rosa  escritor mineiro fã da árvore Buriti. Para entender melhor a história, confira aqui.

Os embates entre o setor imobiliário, cada vez mais interessado na verticalização do bairro  e os antigos moradores, que desejavam um bairro arborizado e horizontal, resultou no parque municipal Aggeo Pio Sobrinho. Com extensão de 600 mil metros quadrados, o parque foi construído como forma de “apaziguar” a situação e entregar a área verde que tanto queriam. A partir da década de 70, a região começa a receber empreendimentos dos mais diferentes setores, ao ponto de se tornar o bairro conhecido por ser “auto suficiente” e jovem. Francisco Pimentel, de 50 anos, morador do bairro, nos contou como é morar em um bairro com essa característica. “Quase não saio daqui, aqui vivo, aqui resolvo tudo”. Além disso, disse que ao longo dos anos o bairro

“ficou mais atrativo, mais agradável em morar. Pena que a questão do trânsito, ainda precisa muito a se fazer.”

MORRO DAS PEDRAS

Foto: acervo Prefeitura de Belo Horizonte

Já a região do Morro das Pedras, quarto maior aglomerado da cidade, com mais de 20 mil habitantes, não teve uma história com início em supostas árvores frondosas e belas. Ficou famoso no começo pelo lixão que lá havia. Entre as décadas de 40 e 70, o depósito de lixo da capital não era feito de forma sistematizada e consciente, sem controles básicos como drenagem, compactação e aterramento. Por isso, era comum a existência de áreas extensas para o descarte do lixo. O aglomerado era uma delas.

Entretanto, seu nome demonstra a sua força para a cidade: suas pedras foram essenciais para a edificação da capital, que foram garimpadas e distribuídas para várias regiões. Atualmente, o Morro das Pedras se tornou referência por abrigar iniciativas sociais que tiveram a região como porta de entrada e se espalharam pela cidade.

O rapper Wanderlei Batista, de 42 anos, conhecido como WL, é morador do aglomerado desde a infância e desenvolve um projeto cultural, social e educativo, levando arte e entretenimento à população, o Circuito Morro das Pedras .As parcerias vêm dos próprios artistas locais, moradores do aglomerado. Entretanto, esclarece não contar com apoio de nenhum empreendimento da região Oeste. Paulo Santos (37), também morador do aglomerado, reafirma que o Circuito é importante para a região:

“É uma atividade que traz algo que, na maioria das vezes, o governo não oferece para os moradores aqui da vila.” 

Entretanto, projetos como o Circuito Morro das Pedras, muitas vezes não conseguem visibilidade suficiente para que os “vizinhos” possam contribuir em sua expansão. Dessa forma, o bairro Buritis e o aglomerado Morro das Pedras são um exemplo de como a desigualdade socioeconômica é presente em áreas tão próximas geograficamente, a ponto de se tornarem tão distantes socialmente, por não haver iniciativas que visem, principalmente, a construção de uma relação entre elas.

Jornal Daqui BH

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