Se o mosquito da dengue não voa mais que 1,20m, como ele consegue alcançar os andares mais altos dos edifícios?

Por Matheus Bongiovani e Welleson Mendes

 

A região Oeste é a quarta com mais casos de dengue confirmados em Belo Horizonte. Segundo dados da Secretária Municipal de Saúde (SMSA), dentre os 61.604 casos na cidade, 5.707 são na região, quase 10% do total.

Tabela com casos de dengue divididos por região. Fonte: SMSA

Tabela com casos de dengue divididos por região. Fonte: SMSA

O Buritis é o bairro mais verticalizado da região – possui edifícios como característica predominante em sua composição. Considerando a incapacidade do mosquito em voar alto o suficiente para alcançar os andares superiores dos prédios, o índice de casos confirmados na região deveria ser menor.

Segundo estudos feitos pelo Laboratório de Parasitologia da UFMG, o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, não voa mais que 1,20m.

Ao ser questionada sobre o índice na região, Kelly Paixão, pesquisadora do laboratório de Parasitologia da UFMG, afirma que o mosquito utiliza de outros recursos para alcançar os lugares mais altos.

Nos prédios, o mosquito utiliza de elevadores e escadas para alcançar os andares mais altos.   Por vezes, se prende às roupas e sacolas dos moradores e os utiliza como apoio para subir. “Quem mora em apartamentos não está livre deles, pois podem subir pelos elevadores e escadas”, afirma a bióloga Karlla Patrícia sobre os mosquitos.

O cuidado também deve ser tomado fora do apartamento. Kelly afirma que muitas pessoas se contaminam fora de casa, no trabalho ou em ambientes comuns.

Um fator agravante na propagação da dengue são os prédios abandonados no bairro Buritis, que acabam se tornando criadouros para os ovos da fêmea do mosquito.

Mesmo prédios habitados também podem se tornar criadouros. Aglae Paulino, que mora em um apartamento no Buritis, afirma que, no prédio próximo ao dela, a piscina destampada atrai o mosquito e que já tiveram vítimas de dengue na região.

Segundo estudos da SMSA, a região Oeste tem a maior proliferação de ovos do Aedes. Para esses estudos, são utilizadas ovitrampas – armadilhas que atraem a fêmea e não a deixam escapar depois de depositar seus ovos no local. A região oeste tem uma média de 72,4 ovos por ovitrampas.

Além da incapacidade de voar alto, o Aedes Aegypti apresenta algumas características que o diferenciam do Culex – pernilongo comum. Enquanto os transmissores da dengue, da chikungunya e do zika vírus possuem o hábito de picar durante o dia, o Culex sai para colher sangue após às 18h.

Tabela comparativa entre os mosquitos Aedes e Culex. Tabela: William Araújo

Tabela comparativa entre os mosquitos Aedes e Culex. Tabela: William Araújo

Também existem diferenças quanto à coloração e o tamanho que podem ser observadas a olho nu. O Aedes é escuro com listras brancas e maior, enquanto o Culex é marrom e menor.