Por Victória Trigueiro
Muito se discute sobre a ocupação do espaço urbano nas grandes cidades. Entre prédios de 30 andares e casas aglomeradas, a ocupação urbana, hoje, pode ser considerada um problema estrutural. Esse é o caso dos prédios no Buritis, onde a inclinação do terreno fez com que estruturas de concreto imensas fossem criadas para sustentar os edifícios.
Essas estruturas, à distância, impressionam os leigos. Lembram palitos entrelaçados, que suportam enormes edificações. A população local já se acostumou, mas, para olhares estrangeiros, os prédios parecem ter saído do imaginário de uma criança cuidadosa e seus legos. Alguns, localizados na rua Professor Euclides Ferreira na divisa do bairro Buritis com o bairro Betânia, são os mais expostos.
Por serem estruturas com muitas tramas de pilares e vigas, o controle de limpeza torna-se difícil, o que propicia o acúmulo de lixo no local. Além disso, o espaço abaixo desses prédios armazena toda a tubulação de esgoto – o que também dificulta o acesso. Esse quadro pode piorar se houver nichos de água parada, aumentando o risco de foco do mosquito Aedes Aegypti.
“Esteticamente podemos classificar como feias. Pensando em uma questão urbana, que não é só uma questão de ter acesso aos serviços, mas de você conseguir passar pela cidade e entender o que faz parte dela, isso – essas estruturas – são bastante estranhas a Belo Horizonte. Nos outros bairros, por exemplo, não é comum você ter esse tipo de construção. Ou não é tão visível, quanto é aqui, no entorno do Buritis. ” Afirma o morador Leonardo Souza, morador e subsíndico de um prédio vizinho.
O Engenheiro Civil Leonardo Augusto dos Santos, deixa claro que “o jeito que essas construções foram feitas, e esses pilares foram colocados, está correto. Cobri-los seria apenas uma questão de estética”.
Perguntado sobre o risco de desabamento, o Engenheiro diz que não existe. “Levando-se em consideração que houve, no momento da construção das fundações, um estudo sobre as características do solo, tem-se o entendimento que esses pilares seriam suficientes para manter o prédio” assegura o Engenheiro. Ademais, “apesar desses pilares serem finos, existem vários, e quando se trabalha com um conceito de pressão, é melhor usar múltiplas colunas espalhadas do que apenas duas que não suportariam igualmente o peso do edifício”, afirma.
Sobre a existência de vistorias periódicas, Leonardo Augusto contou que “a defesa civil municipal atua fiscalizando, mas apenas em situações críticas, onde o perigo é visível. A defesa civil geralmente age por demanda, quando há uma crítica ou um pedido por parte da população”.
Rafael, porteiro do prédio Araucária (um dos edifícios do bairro que fica contido sobre grades de pilares) relata que “os moradores não têm medo, mas os funcionários são bem receosos em relação a possíveis deslizamentos de terra. E mesmo assim, não vemos nenhum agente da defesa Civil por aqui”.
De acordo com a lei de uso e ocupação do solo 7.166/96 e 9.959/10, as partes da edificação construídas sobre as divisas laterais e fundos do terreno não podem apresentar nenhum tipo de abertura voltada para as mesmas e suas faces externas devem ser devidamente acabadas.
Assim, fechar essas construções não seria apenas uma questão estética, mas também um cumprimento da lei embasada no artigo 4º, como forma de organização estrutural da cidade.
“O problema é que você constrói um prédio como este e esquece que existe o fundo e o resto da cidade. Parece que você só vive dentro dessa estrutura. Enquanto o perigo de queda desses edifícios é pequeno – geologicamente -, existem outras implicações como o risco do aumento dos casos de dengue”, afirma o engenheiro geólogo Leonardo Souza, morador do bairro Buritis.
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Maravilha de reportagem. Muito esclarecedora!
Obrigada! A equipe do Jornal Daqui BH agradece!
Excelente reportagem!
Obrigada! A equipe agradece!