Por Alexandre Santos
O ano de 2021 começou com o decreto 17.253/2021, da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no dia 8 de janeiro, que novamente proíbe o funcionamento do comércio não-essencial na cidade por tempo indeterminado. A decisão do prefeito da capital mineira, Alexandre Kalil (PSD), foi tomada devido à alta taxa de 80% na ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no município.
De acordo com o Boletim Epidemiológico e Assistencial, divulgado pela PBH no último dia 14, a cidade já registrou 73.980 casos confirmados de infectados pela Covid-19 (SARS-CoV-2) e 2.001 casos de óbitos decorrentes da doença. O boletim ainda apontou que o bairro Buritis mantém a liderança em número de casos de síndrome gripal, totalizando 1.137.
O fechamento de Belo Horizonte, que está em fase vermelha, apesar de fundamental para conter a disseminação do novo coronavírus, afeta negativamente o caixa de bares, restaurantes e também a classe artística, que depende do público para realização de suas atividades.
ARTE EM CRISE
No último ano, as salas de cinema e teatros estavam vazias, assim como os shows que compunham o line-up dos festivais de Belo Horizonte foram cancelados. A indústria cultural e a classe artística sofrem com as consequências do isolamento social decorrente do novo coronavírus. A crise sanitária convidou artistas e produtores culturais a experimentar novas formas de trabalho. No entanto, se, por um lado, a pandemia apresentou um novo mecanismo para o artista chegar ao público, do outro destacou a desvalorização do setor artístico no Brasil.
A atriz Rita Maia, moradora do bairro Jardim América, na Região Oeste de BH, ressalta problemáticas do setor cultural no país.
“A crise que afeta o setor cultural já é de muito tempo e foi muito agravada com a pandemia. Faço uma arte que precisa de apoio nos financiamentos públicos através de leis de incentivo. Grande parte dos artistas que você conhece sobrevive através desses mecanismos de financiamento. Nos últimos anos, o que vemos é uma redução drástica nos valores para financiar o setor cultural. O que é grave”, explica.
Pressionado pela classe artística, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou a lei Aldir Blanc, em junho de 2020. O auxílio garantiu uma renda emergencial a profissionais do setor cultural, como atores e cantores, contadores de histórias e professores de escolas de arte e capoeira, paga por meio dos governos estaduais em três parcelas mensais de R$600, segundo o portal oficial do Governo do Brasil. A lei também prevê que o auxílio pode ser usado para manutenção de espaços artísticos, que variam de três mil a dez mil reais.
Rita explica que a demora do presidente, que se mostrou contrário ao auxílio, prejudicou a execução da lei de forma eficaz.
“Ele demorou muito a encaminhar as questões e muitos municípios e estados não tiveram tempo hábil para executar o montante e estão devolvendo o dinheiro que tinha prazo de execução até o final do ano de 2020. Ou seja, mais uma situação grave para o setor cultural”, lamenta.
“Amparar os artistas nesse momento é de fundamental importância. A arte foi um grande alento para as pessoas confinadas em suas casas, então, se os artistas salvaram, nada mais justo que também sejam salvos”, também observa Rita.
Questionada se existe um planejamento para o pós-pandemia, a atriz revela que no atual contexto é impossível prever o que será do futuro, mas salienta que não falta resistência e vontade de criar, mesmo em condições precárias.
“Considero que os artistas não se furtaram em produzir e em criar em meio ao caos porque, para mim, é parte da “missão”. O que seria do mundo sem arte? Não quero nem imaginar e por isso faço minha parte para que nunca aconteça”, finaliza.
O CEO da produtora Luupa Filmes, pondera que apesar do momento ser difícil para artistas, houve um crescimento no mercado de transmissões online.
“Afeta muito os artistas que dependem da indústria física para produção, mas para o digital teve um crescimento de pelo menos 100% devido ao número de pessoas em casa para acessos”, explica o CEO.
AGENDA CULTURAL VIRTUAL
Veja a seguir, uma lista de espetáculos teatrais, exibições de filmes, exposições de arte e conhecimento e lives musicais online, que podem ser acompanhadas gratuitamente ao longo deste mês.
NA SALA COM CLARISSE
A peça literária on-line de Odilon Esteves, com texto de Clarice Lispector, celebra o centenário do nascimento da escritora brasileira com uma apresentação ao vivo e interativa. Durante o espetáculo, o espectador tem a oportunidade de escolher qual texto de Clarice gostaria de ouvir, a partir de um cardápio de opções. Promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a peça Na Sala com Clarice está em cartaz até o dia 31 de janeiro, sábado às 20h e domingo, às 19h. Garanta ingressos gratuitos clicando aqui.
EGITO ANTIGO: DO COTIDIANO A ETERNIDADE
A exposição é dividida em três partes: vida, religião e eternidade. As seções ilustram o dia a dia e a cultura dos egípcios. A mostra pode ser acessada por meio de uma tour virtual, disponível no portal do CCBB. Acesse a visita virtual da exposição clicando aqui.
24° MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
Está chegando mais uma edição do maior evento de cinema nacional, que acontece de 22 a 30 de janeiro de 2021. A convenção, que será inteiramente virtual e gratuita, conta com a exibição de filmes nacionais, em pré-estreia, debates e mesas temáticas, além de oferecer mais de dez oficinas e exposições. Entre os títulos que vão estrear na mostra, estão: A Beira do Planeta Mainha Soprou a Gente, com direção de Bruna Barros e Bruna Castro, e A Pontualidade dos Tubarões, com direção de Raysa Prado. Acesse o portal oficial da 24° Mostra de Cinema de Tiradentes clicando aqui.
CIRCO VOADOR
Apresenta uma coletânea de performances históricas, que fizeram sucesso na casa de shows. Nomes de peso, como Rincon Sapiência, Vanessa da Mata, Mart’nália e Jão já tiveram suas apresentações reprisadas. O Circo Voador, fundado em 1982, na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, é um espaço para artistas de diversas vertentes mostrarem sua arte para o público. Os shows são transmitidos todas as sextas e sábados, à partir das 22h. Tenha acesso ao canal oficial clicando aqui.
ESPETÁCULO ÉPICO
A Cia Tercer Abstracto promove a peça Épico, com direção de David Atencio e, no elenco, estão nomes como Giovanna Monteiro, Giu Castro, Mateus Fávero, Marô Zamaro e Paulo Eduardo Rosa. A apresentação, que está em cartaz até dia 23/01, traz uma adaptação do texto-manifesto O Pequeno Organon para o Teatro de Bertolt Brecht (1898 – 1956). Para ter acesso ao ingresso do espetáculo, que é gratuito, o interessado deve enviar um e-mail no endereço epicoprojeto@gmail.com.
LIVE – PITTY
A cantora apresenta, em seu canal na Twitch, uma plataforma de streaming com foco em transmissões independentes, uma série de lives recheadas de bate-papo e muita música. As transmissões acontecem às terças-feiras, 19h, às quartas, 23h, às quintas, 21h e sextas, 21h. Tenha acesso ao canal da cantora na Twitch clicando aqui.
ESPETÁCULO – REVOLUÇÕES TROPICALISTAS: UMA EXPERIÊNCIA CÊNICA
O grupo Teatro Lusotaque, fundado em 2006, coloca em cartaz a apresentação Revoluções Tropicalistas: uma experiência cênica. O espetáculo conta a participação de onze atores de diferentes nacionalidades, apesar de todo o texto ser interpretado em português e legendado para os idiomas locais, onde a peça será transmitida. Gratuita, a peça terá apresentações nos dias 23 e 30 de janeiro, às 15h, horário de Brasília. Para acessar o ingresso clique aqui.
FESTIVAL DIVERCIDADE
Marcado para o dia 31/01, às 14h, o Festival DiverCidade, que será apresentado por Nayara de Deus e Tchaka Drag Queen, celebra a diversidade e o respeito. Entre os 15 artistas confirmados, que completam a line-up do evento, estão Pepita e Rico Dalasam, ícones do cenário LGBTQIA+ brasileiro. Para acessar o ingresso, que é gratuito, clique aqui.
Sem comentários