Por William Araújo
Lembra das salas de aula cheias e silenciosas? Garotas e garotos debruçados sobre cadernos imensos, com várias divisões de matérias? Nessa época, o celular no ambiente acadêmico parecia coisa de outro mundo, mas agora não é.
A demanda por novas práticas de ensino tem levado professores e instituições a unir tecnologia com o aprimoramento do aprendizado dos discentes. Retroprojetores e lâminas, televisores, laboratórios com computadores desktop, lousas interativas, projetores, tablets, canetas tradutoras e, agora, como era de se esperar, smartphones.
De acordo com pesquisa sobre o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação nas escolas brasileiras – TIC Educação 2016 -, divulgada em 3 de agosto pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), no portal do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), o uso de celulares para realização de atividades escolares foi citado por 74% dos alunos do Ensino Médio; outros, 52% do 5º e 9º ano do Fundamental, também indicaram o uso do aparelho para as propostas de estudo.
Exemplos da aplicação da tecnologia nos diversos ambientes acadêmicos não são raros. Ainda, de acordo com o estudo, 81% das escolas públicas possuem laboratórios de informática, apesar de somente 59% estarem em uso. Além disso, 31% dos professores disseram usar computadores para desenvolver atividades com os discentes.
A internet, o uso dos dispositivos móveis nas variadas faixas etárias e, recentemente, a futura reforma do Ensino Médio, em que linhas de estudo/formação poderão ser escolhidas pelos alunos e, das quais, algumas são do eixo técnico, contribuem para o aceleramento desse processo de adaptação em salas de aula.
A Escola Americana de Belo Horizonte (EABH), situada na avenida Professor Mário Werneck, número 3301, no bairro Buritis, é um instituto de educação que existe há mais de seis décadas e, atualmente, utiliza Ipads com alunos a partir dos três anos de idade. Em entrevista com Michelle Rocha, School Counselor (Psicóloga Educacional) da instituição, perguntamos como a escola faz a inserção dessas mídias:
“A partir dos três anos, as crianças têm aulas de tecnologia que funcionam como uma forma de familiarização/interação do aluno com essa área. O princípio é desenvolver habilidades relacionadas à informática, como o uso apropriado do mouse e teclado.
Elas também usam Ipads que contêm aplicativos específicos para fins educacionais. Na medida em que vão crescendo e se desenvolvendo, o foco passa a ser estimular a integração da tecnologia com os conteúdos aprendidos.
É permitido e recomendado que o aluno, a partir do Ensino Médio, traga para a escola seu próprio dispositivo. Neste ponto, o controle para uma adequada utilização da tecnologia é maior, a fim de evitar que ela seja utilizada como um distrator (algo que distraia).
Por mais válido que seja a utilização de novas mídias como facilitadoras do ensino, é preciso que elas venham acompanhadas de objetivos muito claros e orientação por parte dos professores”, diz Michelle.
De acordo com a Psicóloga, as instituições de ensino não são responsáveis diretas por esta propulsão das mídias móveis, mas contribuem à medida que se adaptam às novas tecnologias, trazendo para dentro das salas de aula esta realidade.
Cada geração de crianças esteve envolvida, a seu modo, com as tecnologias vigentes na época da própria infância. Os Baby Boomers (1946 – 1964), provenientes da expectativa humana por novos tempos de paz após a Segunda Guerra Mundial, estiveram, na infância, enredados pela corrida espacial.
A geração X (1961-1982), nascidos dos adultos do pós-guerra, estiveram lado a lado com os toca fitas, rádios portáteis, toca discos, televisores em cores, primeiros computadores portáteis e consoles de videogames.
A geração Millennial, também chamada de Y, é constituída por crianças nascidas a partir de 1982 e, provavelmente, usou walkmans, videocassetes, fornos micro-ondas, leitores de cd e aparelhos de fax.
No Brasil, sistemas de telefonia com valores acessíveis, bem como a própria internet, demoraram a chegar, o que levou a experiência dessas inovações à década de 1990, quando nascia a geração Z.
Segundo Michelle Rocha, existe uma forte demanda por maneiras criativas de ensinar e os estudantes da geração Z, que já nasceram em um mundo eletrônico, impulsionam esta necessidade de aplicação das novas tecnologias. Por isso, não há como as escolas ficarem de fora das mudanças sociais promovidas pelo avanço científico.
Em boa parte, as próprias características realçadas pelas gerações são derivadas do passo evolutivo das tecnologias. A cada dia, quanto mais inovações aparecem, menor fica o tempo que divide estas gerações.
Enquanto os Baby Boomers e as gerações X, Y e Z continuaram nascendo em um ambiente semelhante durante duas décadas cada, a nova geração Alpha, iniciada em 2010, dentro de um mundo virtual, pode ser substituída por outra em 2020 por causa da velocidade da evolução tecnológica.
Segundo o relatório TIC Kids Online, divulgado em outubro de 2016 pelo Cetic.br, sobre a proporção de crianças e adolescentes, entre nove e 17 anos de idade, e equipamentos para acessar a internet, 85% dos jovens disseram utilizar o celular e 21% os tablets. Computadores desktop, portáteis, videogames e smart TVs apresentaram, respectivamente, 41%, 35%, 11% e 11% das escolhas dos jovens para o acesso ao ambiente virtual.
No critério frequência de acesso, 68% acessam mais de uma vez por dia. Em respeito ao local de acesso, 32% disseram estar na escola enquanto fazem uso da rede e 11% tiveram o primeiro contato com a internet até os seis anos de idade.
Segundo o relatório TIC Educação 2016, mesmo com a densidade de dispositivos móveis nas mãos de crianças e pré-adolescentes, no Brasil, em comparação com outros países, o uso destes aparelhos para aprendizado ainda é baixo. Muitos alunos dizem não utilizar a tecnologia por serem proibidos de acessar o Wi-Fi nas escolas.
A reportagem questionou Michelle Rocha, psicóloga educacional da Escola Americana, sobre o que é melhor, a interface dos livros e cadernos ou a apropriação em salas de aulas de tablets, smartphones e outras tecnologias móbile:
“Não acredito que os eletrônicos tenham vindo para competir com os livros. Cada um tem suas vantagens e desvantagens, dependendo do objetivo com o qual são utilizados. É certo que algumas mídias de ensino, que utilizam de tecnologia, possuem qualidades que as tornam mais atrativas para os pequenos, mas o excesso no uso destes meios, tanto o analógico, quanto o digital, traz prejuízos importantes de serem considerados. Por exemplo:
Os tablets e celulares oferecem várias possibilidades de utilização da linguagem lúdica tão representativa da infância. São desenhos, jogos e brincadeiras que relacionam diretamente questões ligadas ao seu dia a dia com atividades educacionais. Mas, lançar mão apenas deste meio para promover o ensino pode limitar a criatividade das crianças e adolescentes, uma vez que as novas tecnologias trazem cenários e estórias prontos e pré-determinados, abrindo pouco espaço para a imaginação.
Assim, é preciso estabelecer medidas de controle da utilização destes meios a fim de diminuirmos os possíveis prejuízos que eles podem causar, como a dependência por tecnologia e as dificuldades no estabelecimento de relacionamentos interpessoais saudáveis”, disse a psicóloga.
O Portal do Professor, mantido pelo MEC, recomenda e incentiva o uso de tecnologias que estimulem o aprendizado. Armazena, inclusive, uma série de materiais virtuais para auxiliar os professores na didática. Clique aqui e veja.
Entretanto, harmoniza com Michelle Rocha quando diz que os professores precisam intermediar o acesso dos alunos à internet com fins de aprendizagem. Quanto antes os docentes endossarem o uso correto das diversas mídias, melhor será sua liderança neste meio.
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