Covid-19 e a educação: Brasil pode retroceder 4 anos

Por Maria Luiza Marliere

O ano de 2020 foi um marco para o mundo inteiro. Com o surgimento da Covid-19, foi necessário, em muito pouco tempo, reorganizar estruturas que já estavam consolidadas para se adaptar a novas rotinas. A internet, nesse contexto, surgiu como a principal aliada de diversos setores, como o comércio, a cultura, os espaços políticos e, sobretudo, a educação.

Pais e alunos foram pegos de surpresa com essa mudança repentina e a palavra-chave foi readaptação. Aulas, apresentações de trabalho e provas adentraram o mundo online e passaram a ser a realidade de milhões de estudantes.

A qualidade do ensino, entretanto, não se manteve estável e efetiva para grande parte da população brasileira. Diferenças sociais se destacaram cada vez mais, e as desigualdades entre o ensino público e o privado ficaram ainda mais evidentes.

BRASIL, EDUCAÇÃO E COVID-19

A Fundação Lemann, junto à Fundação Getúlio Vargas (FGV), encomendou ao Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona (FGV EESP Clear), um estudo com o intuito de entender como o foi o ano escolar durante a pandemia de Covid-19. 

Os resultados apontam para diminuição do aprendizado em todo o país. Em um cenário mais pessimista, a educação no Brasil pode retroceder até quatro anos. As regiões mais afetadas foram a Norte e Nordeste, e esse fato pode ser explicado pela diferença econômica entre os estados do Norte e do Sul do país. 

Ao comparar esses dados, em uma microrregião, como em Belo Horizonte, é possível constatar que bairros com o Produto Interno Bruto (PIB) mais elevado terão uma perda de aprendizado menor do que em regiões em que esse valor é mais baixo.

A REALIDADE DO ENSINO REMOTO

Imagem: Pixabay.

Uma pesquisa realizada em 2019 pela TIC Educação apontou que 39% dos alunos da escola pública, no Brasil, não possuem acesso a computadores em casa. Ao se tratar de alunos da escola particular, esse número cai para 9%.

Jacqueline Medeiros Santos, professora da EMEI Maria Salles Ferreira, do bairro Betânia, Região Oeste de Belo Horizonte, relata que, no ensino público, houve uma enorme dificuldade para pais e professores em relação à acessibilidade.

A partir do dia 1º de abril de 2020, o corpo docente da escola em que Jacqueline trabalha voltou a se reunir, semanalmente, e de forma voluntária, para analisar alternativas, planejar as atividades escolares e estudar um meio de contato eficaz com os pais dos alunos. A maior parte dessa comunicação entre a escola e os alunos ocorreu através de grupos no WhatsApp, criados pela direção da instituição.

Jaqueline explicou que houve várias queixas de pais que deixavam os filhos com os avós e não conseguiam acompanhar seus processos de aprendizagem, ou que não possuíam acesso a computadores ou à internet.

Jacqueline, que também é mãe de um estudante do segundo ano do ensino médio na rede pública, ressaltou que as atividades entregues pela escola do seu filho e realizadas por ele ficaram bem abaixo do esperado. “Ele também não teve aula todos os dias”, observa. 

Renata Marques, arquiteta e moradora do bairro Buritis, também na Região Oeste de Belo Horizonte, teve que reformular toda a rotina da família para possibilitar que os filhos tivessem aulas remotas. Renata acredita que o filho, Lucas, que cursou o sétimo ano do ensino fundamental na rede particular, também não teve um ensino de qualidade em 2020, e crê que a dinâmica utilizada pelos professores, e a falta de interesse dele pelas aulas foram responsáveis por esse resultado.

A arquiteta realça que a atenção de Lucas era compartilhada com o celular e ele se distraía com tudo. Por também ter que trabalhar em home office, ela nem sempre  conseguia cobrar a concentração do seu filho. “As aulas online estão sendo muito difíceis pra mim, não vejo a hora de voltar com as aulas presenciais”, lamenta. 

Jornal Daqui BH

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