Por Tariq Augusto

No dia 11 de março, durante uma coletiva de imprensa, foi anunciada, pela Organização Mundial da Saúde, a expansão do novo coronavírus pelo mundo. Desde então, a doença passou a ser considerada uma pandemia. Em seguida, cada país começou a adotar ações para conter a disseminação do vírus. No Brasil, uma das ações adotadas foi o isolamento social, fazendo com que escolas fossem fechadas e diversas famílias mudassem a rotina.

No bairro Buritis, região Oeste de Belo Horizonte, os grandes edifícios residenciais compõem a paisagem urbana. São poucas as áreas de lazer, ou seja, já existia  dificuldade para manter as crianças dentro dos apartamentos. Com a quarentena, os pais precisam se reinventar e ainda aprender a lidar com o assunto Covid-19 dentro de casa.

Ingrid Guerra, mãe do Eric, de 4 anos, é piloto de aeronaves. Entre uma viagem e outra tenta garantir um tempo com ele, mesmo que a distância. Em tempos de pandemia, o contrato de trabalho foi suspenso. Agora, o período em casa é totalmente dedicado ao filho. “Não estou tendo que trabalhar em home office, nem nada. Está sendo muito bom esse tempo, porque estou podendo focar em algumas coisas com ele, como a alimentação. Antes eu ficava muito fora, então está sendo possível melhorar algumas situações e dar mais atenção a ele”, conta Ingrid.

Com quatro anos de idade, Eric Guerra assiste aulas online ao lado da mãe. Foto: arquivo pessoal.

Ela tem feito diversas atividades com o filho para entretê-lo, explicar a situação, garantir os estudos e, claro, sempre dentro de casa. “A escola ajudou bastante no início, explicou muito bem para os meninos. A gente, em casa, continuou falando que o vírus é uma doença, que ele está aí, que a gente precisa tomar muito cuidado, é muito sério. Não poder ir à escola, ver os amiguinhos e visitar os avós é frustrante para eles”, afirma.

QUAL A TÉCNICA IDEAL PARA FALAR SOBRE A COVID-19?

De acordo com a psicóloga comportamental, Edinalva Borges, o efeito da quarentena na rotina dos adultos é diferente do efeito causado nas crianças. E temos de tentar, antes de tudo, identificar e compreender essa diferença.

“Você deve usar o seu discurso conforme a idade da criança, do pré-adolescente ou do adolescente, a abordagem é diferente para cada um. Pode começar com um desenho lúdico, através disso explicar e deixar claro que não é um simples bichinho, é ter jogo de cintura, observar e acabar colocando a criança em situações que ela consiga entender o que está acontecendo”.

Os filhos acabam percebendo que seus pais estão preocupados e falando sobre o assunto, e muitos podem ficar agitados e até mesmo criar traumas. “A técnica é criar hábitos, por exemplo, ensinar a lavar as mãos. Para o uso do álcool em gel coloque em recipientes coloridos, para não ficar aquela coisa fria. Recados em papéis coloridos também auxiliam, como: você já lavou sua mão hoje? Quando fizer procedimentos errados, pontue”, explicou a psicóloga.

Estando em casa, a distração pode aumentar, por isso, separamos algumas dicas para organizar uma rotina com atividades pensadas para que o ato de ficar em casa impacte o menos possível na vida do pequeno. Entenda:

  • Mantenha a rotina escolar: Para que o processo de readaptação seja mais leve, é importante executar as atividades escolares e lembrar constantemente sobre a instituição. Se possível, fazer no mesmo horário que a criança já estudava.
  • Estabeleça intervalos entre as atividades: As crianças não ficarão entretidas por muito tempo em uma tarefa, por isso, é ideal intercalar. Vale até uma pausa para o lanche.
  • Organização diária: É papel dos pais criar um planejamento do dia seguinte e explicá-lo ao filho, diminuindo a ansiedade e trazendo deveres a serem cumpridos. Lembre-se: não são férias.
  • Faça brincadeiras: Ficar em casa por tanto tempo pode ser cansativo, e um “telefone sem fio” pode ser bastante divertido em família. Utilize a imaginação!

E DEPOIS DO TÉRMINO DA QUARENTENA? 

A possibilidade de transmissão do vírus pós-quarentena não cessará, apenas reduzirá o impacto quantitativo da onda de transmissão. Sendo assim, será necessário que a retomada da rotina e do trabalho sejam planejadas. “Durante o isolamento social é importante buscar estar bem, observar sempre, usar a criatividade, ter atenção e carinho. Terão dias alegres e dias cinzentos. As crianças precisam lidar com isso, buscando entender o momento. São primordiais o diálogo e a compreensão, isso será determinante para que elas saiam da quarentena com uma boa saúde mental”, destacou Edinalva.

É importante que se possa acolher e trabalhar o que foi vivido no distanciamento social, o sentimento de tristeza, solidão, medo ou outras preocupações. É essencial que experiências de resiliência, solidariedade e compaixão também sejam compartilhadas.

“Esse momento veio para ensinar a gente muitas coisas, não só as crianças, os adultos também estão aprendendo a viver de uma forma que nossos pais passaram na infância deles, com mais atividades, brincadeiras, proximidade e aproveitamento da nossa casa. Sem precisar ir para shopping, por exemplo”, finalizou a mãe de Eric.