Por Thayanny Campos
Aumento nas taxas de inflação, baixa circulação de mercadorias, portas fechadas e instabilidade financeira. Esse tem sido o retrato do comércio e de inúmeros empreendimentos da região Oeste de BH, que a cada dia buscam por um respiro frente a pandemia de COVID-19.
Desde que o número de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus tomou proporções cada vez maiores em todo o mundo, uma das principais medidas de prevenção, recomendada pelo Ministério da Saúde, é o isolamento social.
Assim como adotado por inúmeras cidades de diversos países, como proposta para evitar aglomeração, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, assinou, em março, um decreto que determina o fechamento de diversos estabelecimentos da capital mineira – como shoppings centers, academias, feiras, parques de diversão, clínicas de estética e salões de beleza.
A pandemia é um retrato nítido de que é impossível que vários setores não sofram com a crise instaurada e, no comércio, isso não tem sido diferente. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a crise econômica provocada pela pandemia deve durar quase 11 meses e pode se estender até o próximo ano.
O empresário Bráulio Lara, que possui um imobiliária na região, teve que adaptar a forma de trabalho em home office e estudar estratégias para minimizar os impactos financeiros.
“Tivemos que mudar a plataforma de trabalho migrando quase todas as funções para trabalharem em casa. Os impactos são gigantescos, pois além da demanda por novos imóveis ter despencado, nosso trabalho cresceu muito diante das renegociações de contratos de aluguel.”
Segundo Bráulio, em um primeiro momento, a empresa concedeu férias para a maioria dos funcionários. Alguns custos foram reduzidos e funcionários tiveram seus contratos de trabalho suspensos. De acordo com ele, infelizmente, as demissões não poderão ser evitadas caso o isolamento dure mais tempo.
Outros setores como de serviços, saúde e telefonia também vêm sentindo os efeitos da pandemia. É o que diz o consultor de negócios Thiago Reis, que explica que a sua forma de trabalho não sofreu tantas mudanças, por já trabalhar em regime home office, mas as suas vendas caíram drasticamente.
Thiago ainda reforça as estratégias que ele tem utilizado para superar os impactos financeiros:
“O que mudou na verdade foi a visita aos clientes, os grandes clientes realmente fecharam as portas e os impactos negativos são enormes, aproximadamente 50% do que eu realmente tinha como renda. A gente está trabalhando ainda mais com indicações, fazendo divulgações em redes sociais e um trabalho de telemarketing bastante pesado.”
A Associação do Bairro Buritis e os comerciantes se reuniram para levantar questões sobre os impactos do isolamento social, e organizaram uma carreata no dia 05 de maio a favor da flexibilização do comércio, é o que explica a jornalista Oriádina Panicali, responsável por um Studio de Beleza feminina no bairro:
“Nós começamos a mobilizar os empresários, montamos um grupo no WhatsApp com aproximadamente 100 empresários, e a gente foi se mobilizando. Cada um foi dando uma ideia, mas a nossa ideia não era confrontar a prefeitura, a nossa ideia era mostrar a importância de uma reabertura consciente do comércio. Nós somos todos empresários responsáveis, mas começamos a notar que estávamos ficando à deriva dessas negociações de governo, não recebemos respaldo de ninguém.”
Wellvytha Freitas é dona de um consultório odontológico no Buritis, e conta que precisou fazer mudanças em relação ao atendimento e o seu faturamento caiu significativamente.
“Fizemos algumas alterações quanto ao atendimento e biossegurança. Os impactos foram enormes e o faturamento caiu para zero. Meu consultório está fazendo marketing, mas nossos serviços são presenciais, então não existe uma forma de venda pela internet. Houve redução de 100% da jornada de trabalho, com atendimento a urgências e emergências, e com dia e horário marcados. Infelizmente não consegui reduzir as despesas, já que as contas do consultório são fixas.”
A flexibilização da quarentena em BH está prevista a partir do dia 25 de maio. De acordo com declaração dada pelo prefeito Alexandre Kalil no dia 04 de maio, o afrouxamento vai depender do comportamento da própria população. O processo de gradual flexibilização de abertura do comércio levará em consideração as taxas de ocupação dos leitos e a velocidade da transmissão do coronavírus entre a população de Belo Horizonte.
Segundo um levantamento feito pela universidade americana Johns Hopkins, o Brasil ocupa a 3ª posição entre os países com maior número de infectados pela COVID-19. No momento, são mais de 250.000 mil brasileiros contaminados, segundo o último levantamento feito pela universidade americana no dia 18 de maio.
Em Belo Horizonte, todas as nove regionais registraram casos da Covid-19, de acordo com mapeamento feito pela prefeitura. A região Oeste ocupa a segunda posição do ranking em relação ao número de contaminados. Os últimos números divulgados pela PBH, no dia 14 de maio, indicam o bairro Buritis com 26 casos confirmados de COVID-19, ocupando a segunda posição dos bairros da capital mineira que mais concentram pacientes com a doença.
Segundo uma pesquisa cedida pela CDL/BH para o Jornal DaquiBH, os empresários vêm buscando novas alternativas para trabalhar em tempos de isolamento social. Sem previsão de retomada integral do funcionamento do comércio, empresários e lojistas têm buscado novas formas de minimizar os impactos e de compreender a capacidade de adaptabilidade que possuem.
Em detrimento das necessidades e emergências coletivas, as atividades comerciais da capital mineira precisaram suspender os seus serviços e readaptar as mudanças. Segundo os dados da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL), a taxa de suspensão das atividades chegou a 33,6%, o que pode inflamar ainda mais a crise econômica que vem se alastrando desde 2014.
Com uma vidraçaria há 19 anos no bairro Buritis, Mônica César conta que a empresa precisou se readaptar em decorrência da queda nas vendas.
“Estamos agindo com todas as regras de segurança impostas para resguardar o cliente e funcionários. Infelizmente tivemos uma baixa muito grande nas vendas e estamos lutando para não ter que dispensar os funcionários. Investimos em vendas online e redes sociais. Fechamos em férias coletivas e reduzimos a jornada de trabalho quando voltamos das férias.”
Em entrevista exclusiva ao Jornal DaquiBH, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL- BH), Marcelo de Souza e Silva, explica como têm sido os impactos da pandemia para comerciantes e lojistas em Belo Horizonte e, principalmente, na região Oeste da capital.
Quais os reflexos da pandemia na economia local, especialmente na região Oeste? Temos esses dados?
Os efeitos são desastrosos para as empresas em virtude, principalmente, do fechamento do comércio, especialmente o de rua. Não possuímos dados estratificados por regionais, mas falando no todo, estimamos que 8 em cada 10 estabelecimentos da capital estão fechados sem data para reabrir. Ao incorporarmos as empresas do segmento de serviço chegamos ao montante de 9 em cada 10 empresas fechadas em função do decreto municipal. É importante apontar esses números porque o setor de comércio e serviços da cidade representa 88% das empresas, 72% do PIB e quase 1,5 milhão de empregos.
Qual a sua posição sobre o fechamento do comércio?
Neste momento, quando estamos vendo várias cidades de Minas, do Brasil e do mundo tomarem medidas para a flexibilização gradual da reabertura do comércio, queremos que o mesmo aconteça aqui em Belo Horizonte. A capital mineira precisa estudar já a reabertura gradual do nosso comércio. Reiteramos nossa posição de colaborar efetivamente para que isso aconteça da melhor maneira possível, resguardando vidas, mantendo empresas e garantindo empregos.
Com mais de 12 mil associados conquistados voluntariamente, sem a obrigatoriedade de mensalidades imposta por legislações sindicais, a CDL/BH tem ao seu lado um enorme exército que está absolutamente disposto a contribuir para a retomada gradativa do funcionamento do setor de comércio e serviços em Belo Horizonte. Acreditamos que, aliando o respeito à ciência com a sensibilidade às necessidades da população, é possível construir conjuntamente soluções e alternativas para enfrentarmos esta trágica situação.
Quais os principais impactos da pandemia para os lojistas?
A pandemia tem levado ao isolamento social, e ao fechamento das empresas temporariamente, conforme já mencionado, 80% do comércio está fechado. Podemos elencar vários impactos, como redução de faturamento em alguns casos e em outros sem faturamento. Estoque parado, na grande maioria falta de recursos (capital de giro) para arcar com suas obrigatoriedades. Podemos destacar também que, antes da pandemia, estávamos vivenciando uma retomada da atividade econômica, e com a COVID-19 essa tendência foi descontinuada, o que compromete na confiança dos empresários, que por sua vez reflete em redução de investimento. Em conformidade, podemos destacar o nosso indicador de confiança dos empresários da capital mineira do 1º trimestre de 2020, que compreende o período da última quinzena de março, o qual aborda que a confiança dos empresários foi abalada e estão desconfiantes com o futuro da atividade econômica.
Quais medidas estão sendo tomadas pela CDL/BH para amenizar a crise?
A CDL/BH vem trabalhando de forma muito intensa como representante dos setores de comércio e serviços de Belo Horizonte. Desde o início da crise, em março, estamos tomando diversas iniciativas. A primeira foi uma campanha com o objetivo de conscientizar lojistas e colaboradores sobre as ações de prevenção ao Coronavírus em 31 centros comerciais de Belo Horizonte. A CDL/BH vem fazendo também interlocuções com os governos e representantes de órgãos estaduais para buscar soluções que possam amenizar os prejuízos
Os lojistas ainda têm caixa disponível para mais tempo de paralisação?
No curto prazo as micro e pequenas empresas, na sua grande maioria, já não possuem recursos para custear as suas despesas.
A CDL/BH criou alguns programas para orientar esses comerciantes sobre como agir nessa crise e evitar o endividamento?
A CDL/BH criou o Programa É Prá Já, que oferece um conjunto de soluções para ajudar as empresas a sobreviverem nesta crise. Por meio de parcerias, a CDL/BH oferece consultorias gratuitas aos empresários. O programa está estruturado em seis eixos principais: vendas online, consultorias gratuitas, redução de custo e aumento de receita, informações em tempo real, saúde financeira e dicas para o seu negócio.
Na sua opinião, quais impactos a doença ainda pode causar na economia brasileira?
Câmbio mais alto, aumento da inflação devido ao câmbio mais elevado, PIB menor, queda dos investimentos diretos, aumento do desemprego, queda na renda em circulação, aumento da inadimplência de pessoas físicas e jurídicas e aumento das vendas online.
Como reduzir as perdas econômicas neste período? Como gerenciar o fluxo de caixa?
Rever as contas para verificar se é possível fazer corte com alguma despesa desnecessária.
Evitar estocar produtos, você pode acabar cometendo um erro simples, mas ruim para quem busca recuperar perdas financeiras, por menores que elas sejam: comprar o que não precisa e desequilibrar o frágil orçamento.
Ligar para o credor. Conversar com os credores deve ser uma das primeiras medidas a serem tomadas no caso de crises e perdas financeiras. Pergunte sobre a possibilidade de adiar pagamentos por um espaço de tempo em que você acredita que terá meios de lidar melhor com a situação, questione sobre a possibilidade de redução e, sempre que tiver dúvidas sobre a situação dos cartões de crédito e os empréstimos que tenha contraído, ligue para as agências e seguradoras e explique a sua situação.
Criar um plano de longo prazo, mesmo sabendo das perdas financeiras, é essencial ter um plano mais bem estruturado a longo prazo. Dependendo do impacto, a recuperação pode envolver alguns meses. Sendo assim, quanto mais claro o caminho a ser percorrido estiver, maiores serão as chances de sucesso e mais sólidas as decisões tomadas.
Qual a projeção para o comércio brasileiro para os próximos meses?
A estimativa é que a economia brasileira (PIB) apresente uma retração na casa dos 4,5%.
Diante desse cenário instável, é possível ressignificar esse momento. Adotar as medidas de prevenção da doença é fundamental. Apesar de ser um cenário difícil para toda a população, empresários devem atuar de forma consciente e responsável. Reinventar e procurar um diferencial que não comprometa a saúde da coletividade pode ser uma boa aposta.
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