Aumento nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha influencia dia a dia dos brasileiros

Por Giullia Gurgel

No dia 10 de março, a Petrobras anunciou o aumento dos preços da gasolina e do diesel. O reajuste, segundo a empresa, é necessário para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem maiores riscos de desabastecimento. 

Postos de várias regiões do estado de Minas Gerais repassam, quase de imediato, a parcela de reajustes aplicados pela Petrobras.

Segundo o economista e professor da UFMG, Ricardo Machado Ruiz, a petrolífera aumentou os preços dos combustíveis devido a sua política de preço nacional seguir os preços internacionais. O nome dessa política é Preço de Paridade Internacional (PPI).

“A Petrobras é exportadora de petróleo e importadora de derivados de petróleo, pois a capacidade brasileira de produzir derivados do petróleo é limitada ou subutilizada. A ruptura da oferta mundial durante a pandemia de Covid-19 e, agora, o novo choque de oferta com os conflitos na Ucrânia e as retaliações contra a Rússia, geram fortes aumentos de preços do petróleo e, também, de um amplo conjunto de produtos e serviços. O Brasil está “importando inflação” do mundo!”, comenta o professor da Faculdade de Economia e do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (UFMG).

Como a Petrobras é uma empresa dominante no mercado nacional e não segue uma regulação de preços referenciada nos custos, ela apresenta lucro quando todos sofrem com aumentos de preços. A empresa segue os preços internacionais em dólar e seus custos não aumentam no mesmo nível, logo, é capaz de gerar elevados lucros.

“De forma bem simples e direta: os preços aumentam, os custos sobem pouco, Petrobrás repassa os preços para os consumidores e gera um lucro imenso para os acionistas. Tudo é resultado do PPI em um contexto internacional adverso”, indaga o economista.

De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as altas acumuladas no ano passado, 2021, foram de mais de 40% para os combustíveis de veículos no Brasil e 30% para os residenciais, muito acima da inflação geral. 

Nesse sentido, os conflitos na Ucrânia e as retaliações à Rússia modificaram todos os cenários para o preço do petróleo. No final de 2021, a expectativa era o preço do barril cair para valores próximos a U$70 e até mesmo a US$65, preços pré-pandemia (2019). Porém, com a guerra, os preços se mantiveram em patamares elevados (U$110). 

“Não é possível prever o que ocorrerá. Sem um acordo de paz, a Rússia, que é um grande produtor de petróleo e gás, terá sua oferta progressivamente restringida. A especulação antecipa a restrição de oferta futura e aumenta preços hoje. No curto prazo, a alternativa será pressionar os países Árabes a aumentar a produção, assim como outros produtores como a Venezuela e, também, o Brasil. Não há como prever preços para 2022 nesse ambiente incerto”, observa Ricardo Ruiz.

Foto: Petrobras/Divulgação

Inflação e os aumentos dos preços

A inflação no Brasil é, em grande medida, resultado desses movimentos de preços internacionais. No início de 2022, o presidente do Banco Central do Brasil avaliou a inflação em 2021 e disse que os aumentos de preços no Brasil eram reflexos dessas circunstâncias mundiais. 

Para além da alta dos preços nas bombas, o petróleo mais caro tem efeito de cadeia em praticamente todos os produtos em razão do preço dos fretes e de seus derivados.

O barril de petróleo é um dos produtos que contribuíram para o aumento de preços. Outros  como carnes, soja, trigo, minério de ferro, automóveis, aço, computadores e um amplo conjunto de produtos também são responsáveis.

“O petróleo é insumo para muitos produtos e não somente para transporte. Por exemplo, da nafta, um derivado do petróleo, se produz insumos para produção de plásticos que, por sua vez, é insumo para vários produtos. Então é esperado aumentos de preços não somente por causa do diesel e dos fretes. Em alguns casos, é possível ter produtos substitutos ou mesmo reduzir o consumo, o que pode conter a difusão de preços. Contudo, no curto prazo, teremos aumentos de preços”, aponta o especialista.

Portanto, a inflação não resulta somente do preço do barril de petróleo, mas do aumento de preços em vários produtos importados. 

Além dos combustíveis, o gás de cozinha também sofreu alta no preço. O GPL teve um aumento de 23,2% nos últimos 12 meses, entre março de 2021 e março de 2022. De acordo com esses dados, a tendência é a população não conseguir suprir o insumo essencial.

“Diesel, gasolina, querosene de aviação, gás e até mesmo o etanol tem seus preços relacionados, sejam por terem a mesma base de custo (barril de petróleo) ou serem produtos substitutos (etanol). Dado o cenário mundial de conflito, não se esperam reduções de preços ao patamar pré-pandemia. Convivemos com preços elevados durante todo o ano de 2022. Com sorte os preços caem, mas não voltarão ao momento pré-pandemia tão rapidamente. A inflação (aumento de preços) tende a se reduzir, mas os preços se manterão em patamares elevados durante 2022”, afirma o economista.

Kit gás: vale a pena converter o carro para GNV?

Foto: Cegás/Divulgação

Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), a alta nos preços dos combustíveis fez a conversão de carros para o Gás Natural Veicular (GNV) subir 88% em 2021.

O custo de instalação do equipamento de conversão de combustível líquido para GNV varia entre R$3.500 e R$8.000. Após o investimento, a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig) estorna R$ 1 mil em dinheiro para o motorista.

O procedimento trata-se de um sistema capaz de fazer a transformação do motor para utilização de combustível a gás e não apenas combustível líquido. Vale para todos os tipos de veículos e cilindradas. O kit integra, nesse sentido, um redutor de pressão, filtro, sensor de pressão, fluxo e temperatura do combustível, além de mangueiras de gás e água, bicos injetores e o próprio cilindro de armazenamento exclusivo para o gás

Contudo, veículos movidos a GNV têm como uma das principais vantagens a redução nas emissões de poluentes. De acordo com a União Internacional de Gás (IGU), veículos abastecidos com gás natural veicular jogam até 30% menos CO² na atmosfera quando comparado aos modelos movidos a etanol e/ou gasolina.

Em síntese, instalar o gás natural em seu veículo traz benefícios e desvantagens. Entretanto, apenas quem percorre longas distâncias, como taxistas e motoristas de aplicativos de transporte, é que perceberá uma diferença mais significativa ao final do mês.

Jornal Daqui BH

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