Por Isabela Santana
Com a pandemia do coronavírus, as missas, cultos e encontros religiosos tiveram suas atividades suspensas por envolverem uma grande aglomeração de pessoas. O Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), havia publicado no Diário Oficial da União, no dia 26 de março, o decreto Nº 10.292/20, que incluía atividades religiosas como serviços essenciais durante o isolamento social no Brasil. Porém, o juiz federal Manoel Pedro Martins de Castro Filho, da 6ª Vara de Brasília, determinou que o governo retirasse esse trecho do decreto.
Após a derrubada do decreto de Bolsonaro pela Justiça, as plataformas digitais se tornaram os novos templos dos fiéis. Uma alternativa encontrada pelos centros religiosos da região Oeste de Belo Horizonte é a transmissão ao vivo das missas, cultos e outras celebrações, por meio de vídeo. Os encontros de jovens e reuniões de células também são realizados através de chamadas de vídeo. Essa nova realidade impacta até mesmo no aumento dos índices de audiência de canais de televisão religiosos, como a TV Aparecida, que conquistou o 3º lugar isolado no ranking geral das emissoras abertas na Grande São Paulo, no domingo de Páscoa, segundo dados da Kantar Ibope Media.
A Arquidiocese de Belo Horizonte, juntamente ao presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, além de outras instituições da sociedade civil, estiveram a favor do isolamento social e suspensão das atividades religiosas presenciais. Ainda informaram, em texto divulgado no dia 27 de março, que estão acompanhando as recomendações das autoridades em saúde para discutirem a respeito da reabertura das igrejas.
Natália Madureira, coordenadora do grupo de jovens JUSC (Juventude Santa Clara), da Paróquia Santa Clara de Assis, do bairro Buritis, contou sobre as novas práticas adotadas pelo grupo para trazer maior aproximação com os jovens durante a quarentena:
“Tentamos ao máximo cativar os jovens em nossas redes sociais, com imagens de encontros antigos, curiosidades religiosas, enquetes e desafios , para dar continuidade em nosso trabalho de evangelização. Junto à toda a paróquia, estamos nos adaptando a um processo já existente, e anteriormente pouco utilizado, de uso das redes sociais, que com esta situação social se tornou uma solução para suprir a falta da evangelização física nas paróquias de nossa cidade. Nossa juventude vem auxiliando na transmissão online das missas da paróquia. Desta forma, estamos conseguindo levar a igreja para dentro da casa das pessoas”.
RESILIÊNCIA E FÉ
Belo Horizonte já soma 576 casos confirmados de coronavírus, sendo 17 mortes, de acordo com o boletim epidemiológico atualizado nesta quinta-feira, 30/04. O isolamento social é necessário e, com isso, muitas famílias também passam por dificuldades financeiras. Portanto, outra forma encontrada de levar uma mensagem de fé e solidariedade, para além da “ministração da Palavra” ou pregação, foi através da caridade. As igrejas estão dando uma grande assistência a famílias carentes e fazendo doações de cestas básicas.
Neste momento de crise que o mundo está vivenciando, muitos religiosos ressaltam a importância da fé, solidariedade e resiliência. Apesar da vivência em comunidade ser significante para a vida de oração dos cristãos, para eles, a fé independe do templo físico. Crer em algo faz com que seja mais fácil o enfrentamento de um momento difícil, ouvir um testemunho de superação ou uma mensagem de fé, traz a certeza de que é só uma fase ruim que logo passará.
De acordo com a pesquisa realizada pela ONG Oxfam Brasil e Datafolha, “Nós e as desigualdades”, que apresenta diversas visões sobre como reduzir a desigualdade no país, a “fé religiosa” é o aspecto pré-definido com maior importância quanto às prioridades que levariam a uma melhoria de vida.
Luis Sérgio Gonçalves, pastor regional em Minas Gerais e membro do Conselho Deliberativo da Bola de Neve Church, localizada também no bairro Buritis, considerou que as lives e reuniões de células por aplicativo têm sido um sucesso.
“As pessoas estão participando e convidando outras a participarem também. Além disso, elas podem recorrer ao acompanhamento via WhatsApp”, afirmou Luis.
O IMPACTO DA ADAPTAÇÃO
Lucas Miguel (21), católico, frequentador da Basílica Santo Cura D’ars, no bairro Prado, contou como tem sido a sua adaptação para os encontros online:
“A fé é a minha certeza diária. A adaptação é difícil, sempre fui uma pessoa de querer mais contato físico e, nessa época, sem poder encontrar, fica muito mais complicado. Não vejo como um impacto negativo, mas eu senti que é mais difícil se manter firme na vida de oração quando estamos confinados. A igreja física é um fator relevante sim, justamente pelo fato de ter onde me apoiar e “sentir” a presença de Deus.”
Por conta dessa adaptação, Lucas acredita que muita coisa poderá mudar quando acabar esta pandemia:
“Na minha igreja só usavam as redes sociais para divulgação dos eventos. Acredito que essa nova familiaridade com as lives e reuniões online vão ganhar um espaço maior. Existem alguns projetos para utilizar essas plataformas online depois da quarentena.”
Kamilla Galdino (25) frequenta a igreja evangélica Bola de Neve. Kamilla também concorda com a falta que o espaço físico faz na vida do cristão, porém afirmou que se adaptou rápido a esse processo e tem se surpreendido com o resultado:
“Sou daquelas pessoas que sentem falta, caso precise faltar. O fato de não ir presencialmente não está me impactando de forma negativa. Pelo contrário, busquei estratégias que me aproximaram mais ainda do que acredito, buscando atividades que não conseguiria realizar em outras circunstâncias, como acompanhar uma maior quantidade de cultos, por exemplo. Acredito que seja possível manter e melhorar o que já era feito. Para quem não consegue se deslocar até a igreja, esse formato digital seria muito bom. A minha igreja já transmitia alguns cultos presenciais, através de lives, acredito que a frequência dessas transmissões poderá aumentar. Mas, particularmente, não há nada melhor do que estar realmente lá.”
FLEXIBILIZAÇÃO DE FUNCIONAMENTO
Na última segunda-feira (27/04), a Frente Parlamentar Cristã da Câmara Municipal de Belo Horizonte se reuniu com o prefeito da capital, Alexandre Kalil (PSD), para apresentar o documento elaborado que defende a flexibilização de funcionamento dos centros religiosos da cidade.
O objetivo é reivindicar a realização de cultos, missas e encontros de qualquer crença em BH, permitindo apenas 10% de lotação dos espaços, de acordo com o presidente do bloco religioso, o vereador Altair Gomes (PSC).
Após a reunião, Kalil teria esclarecido que esses eventos nunca foram proibidos em nenhum decreto publicado, porém deveriam seguir algumas regras, como evitar aglomerações e o uso obrigatório de máscaras. O vereador Irlan Melo (PL) reafirmou a fala do prefeito e disse que, no documento, havia a proposta de que a prefeitura fizesse um novo decreto estabelecendo regras específicas:
– Uso de máscaras obrigatório;
– Uso de álcool em gel constante;
– Distância de pelo menos 1 metro entre as pessoas;
– Evitar abraços e apertos de mão;
– Incentivar os fiéis a evitar participarem dos cultos e das missas se estiverem com sintomas ou com suspeitas de coronavírus;
– Idosos e pessoas pertencentes aos grupos de risco devem permanecer em casa e etc.
SERVIÇO
Para participar desses encontros religiosos, de forma online, acesse:
- Bola de Neve Church BH – (31) 3889-0281 / (31) 99498-3333
- Paróquia Santa Clara de Assis – (31)98798-9670 / (31) 3378-7120
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