Por Leonardo Batista
O descarte de lixo doméstico da melhor forma possível deve ser uma ação pensada, e feita, com ou sem a pandemia da Covid-19. Os cuidados com os resíduos domiciliares, como embalagem correta, podem fazer com o que se evite, ao máximo, a contaminação dos residentes e dos garis por meio do lixo.
Apesar de um levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos no Brasil (ISWA) apontar que houve um queda em produção de lixo domiciliar no país, a atenção com esse resíduo e sua coleta devem permanecer. O presidente da associação do bairro Buritis, Braulio Lara, conta que o lixo é recolhido no bairro, pela SLU, nas terças, quintas e sábados, e que esse processo não parou nenhum dia durante o isolamento social.
Braulio ainda destaca a importância dos cuidados com o lixo. “É sempre importante que todas as pessoas tenham cuidados com o condicionamento do lixo doméstico, e principalmente materiais que, eventualmente, podem ter algum tipo de contaminação. Então o correto descarte de máscaras, lenços, ou quaisquer outros itens de higiene que, porventura, possam vir a carregar bactérias, vírus, ou qualquer coisa nesse sentido, tem que ser bem condicionado antes de descartado no lixo comum, que é recolhido pela SLU”, orientou a liderança do bairro.
Já no bairro Olhos D’água, também na região Oeste de Belo Horizonte, Alex Rodrigues, líder da associação comunitária, relata dificuldades para esse descarte semanal.
“Em alguns pontos esta situação é precária. Pois falta o recolhimento em alguns pontos, nos quais o morador tem que andar uma longa distância para colocar o lixo para poder ser recolhido pela SLU, mas já tivemos algumas conversas com a PBH para podermos melhorar isto”.
A liderança do bairro Olhos D’água explica também que tem feito vários trabalhos e campanhas educativas sobre as prudências no manuseio do lixo.
“Já orientamos como descartar corretamente as máscaras descartáveis e como lavar as máscaras de tecidos, para que assim possamos evitar a proliferação do vírus”.
OS CUIDADOS DOS COLETORES
De acordo com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), o lixo é levado para a Central de Tratamento de Resíduos Macaúbas, no município de Sabará. Esse lixo é ensacado e levado para esse aterro sanitário, que é de uma empresa contratada e licenciada, e segue todos os padrões de segurança ambiental exigidos para esse tipo de atividade.
A prefeitura ainda ressalta que todos os trabalhadores da SLU usam os equipamentos de segurança necessários e recebem treinamento e material para a proteção e auto desinfecção, e que todos os equipamentos estão sendo desinfetados duas vezes ao dia.
A recomendação da prefeitura, por meio da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), é que todos os moradores da cidade, estando ou não com suspeita de infecção por coronavírus, embalem os resíduos em material impermeável, resistente a rupturas e a vazamentos. Essa recomendação inclui as máscaras e é de extrema importância respeitar o limite de peso da embalagem, assim como o limite de dois terços (2/3) de sua capacidade de armazenamento.
CÓRREGO PONTE QUEIMADA
A líder comunitária dos bairros Betânia e Palmeiras, Carla Magna, está envolvida em um projeto ambiental visando a limpeza do córrego Ponte Queimada, um dos cursos d’água que compõem a bacia hidrográfica do Córrego Cercadinho, cujo percurso inclui a Região Oeste de Belo Horizonte.
O córrego sofre com o descarte de lixo indevido, na beira e dentro dele, e Carla conta que essa ação não é dos moradores que moram nos arredores do córrego, mas sim das pessoas do entorno do bairro.
“Moradores que faziam suas obras descartavam lá, cachorro morria e descartavam lá, cortam árvores e descartam lá, móveis, tudo que puder imaginar é descartado lá na beirada do córrego. E aí nós começamos um projeto criando jardins na beirada do córrego para inibir as pessoas de jogarem lixo, e tem dado certo”.
COLETA SELETIVA
A SLU anunciou, no dia 22 de março de 2020 que iria suspender o serviço de coleta seletiva em Belo Horizonte, tanto na modalidade porta a porta quanto na ponto a ponto, em que o cidadão encaminha os recicláveis até um equipamento da prefeitura, chamado Ponto Verde.
O motivo da decisão foi resguardar a segurança dos catadores das cooperativas e associações, haja vista avaliações técnicas apontarem risco de contaminação dos trabalhadores pelo novo coronavírus (Covid-19) ao manusear o papel, o metal, o plástico e o vidro destinados à reciclagem.
Braulio Lara informa que a situação dos recicláveis no bairro Buritis está parada devido à pandemia, que assombra todo mundo. “Então hoje, infelizmente, o lixo está sendo misturado com os materiais recicláveis. E é um projeto bem-sucedido, mas que hoje, ao invés de estar sendo exercido pela cooperativa, que é designada para isso, acaba sendo dispersada pelos atravessadores”.
Alex Rodrigues, líder do bairro Olhos D’água, fala da importância da reciclagem para alguns moradores como fonte de sustento e na dificuldade de conscientização para separação do lixo. “Falta muito para podermos chegar até o ponto em que todos os moradores separem o lixo doméstico “comum” do reciclável”.
Já no bairro Betânia, Carla Magna, afirma sobre a existência de projetos de recicláveis para a região, inclusive como forma de renda para os moradores, e sobre essa pausa em todo processo. “A reciclagem pode gerar renda, mas com a Covid-19 por aí, nesse momento paralisou todo processo. Vamos ter que esperar ou recriar outro meio”.
FALA, DOUTOR
O Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Dr. Estevão Urbano, explica os riscos de contaminação e dá dicas para lidar com o lixo domiciliar em casos de coronavírus ou outras doenças.
Qual o risco de contaminação por meio do lixo domiciliar? E se tratando da Covid-19, o contágio pelo lixo infectado se torna mais perigoso?
Ainda têm poucos estudos que possam comprovar isso, que podem ligar o lixo doméstico à questão da Covid-19. Mas existe um potencial teórico, por que se você tiver contaminado, você pode distribuir esse vírus no ambiente, inclusive em materiais e lixos que serão descartados, através da tosse, do espirro, por que esse vírus fica muito na região da faringe, da narina da pessoa, e também através das mãos. A sua mão que vai atuar como um contaminante de lixo, de superfícies e etc. Então, se uma pessoa entra em contato com esse lixo, já que esse vírus pode persistir de horas até alguns poucos dias, esse material que é descartado, potencialmente, se torna um material infectante. É preciso que as pessoas tenham bastante cautela e cuidado na hora de descartar esses lixos, principalmente casas e domicílios onde existem doentes confirmados que estejam em fase de produção do vírus e de transmissibilidade.
Tem alguma medida que a população deve tomar mediante ao lixo?
A gente chama atenção para que todo lixo, mesmo que não seja oriundo de casos de pessoas contaminadas, seja bem embalado, não seja jogado na rua ou em locais de fácil contaminação de pessoas e, portanto, seja levado com toda cautela para incineração ou lixões, o que varia de cidade para cidade.
Alguma medida específica para catadores de recicláveis?
No caso da Covid-19, o ideal é que esses materiais sejam embalados, descartados, para que não sejam recicláveis, devido à chance de contaminação. De uma maneira geral, falamos não só de coronavírus, mas de qualquer tipo de vírus, bactéria… essas pessoas têm que usar luvas, higienizar bem as mãos, antes de colocarem as luvas, usar uma máscara também. São medidas de precaução normais que devem ser mantidas, principalmente na época dessa pandemia, por medidas de biossegurança.
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