Por Isabela Santana e Letícia Sudan
A importância do brincar na infância é algo muito discutido. A criança, por sua natureza, necessita desempenhar atividades que mantenham seu corpo conectado ao desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social. Brincar é experimentar diversos papéis e pensamentos, um lugar para simular situações e explorar sentimentos.
De acordo com a psicopedagoga, Ana Rosa Vidigal, existem dois pontos mais relevantes sobre a importância do brincar.
“A brincadeira é um (ponto) simbólico, faz a imaginação desenvolver o reflexo do que, muitas vezes, a criança vê, e transforma isso num papel que ela vai desempenhar na fantasia. E além do cognitivo e afetivo, tem o outro lado, a ver com a motricidade. A criança é corpo, alma, coração, sentimento e pensamento, assim como nós. E sobretudo, a criança que está em processo de formação, necessitará de uma exposição do corpo para atividades ao ar livre, atividades de correr, atividades de uma forma mais ampla, extremamente essenciais.” – Ana Rosa Vidigal.
Elaine Ferreira, pedagoga que atua no bairro Betânia, região oeste de Belo Horizonte, explica que as brincadeiras são importantes para a inserção da criança no meio social, uma oportunidade para aprender com o próximo e seguir regras de convívio. Fala também que a forma mais eficaz para se trabalhar com os jogos é fazer com que eles sejam construídos pela criança, desde o material concreto até a definição das regras.
“Uma das aplicações mais importantes das brincadeiras é ser sociável, pois ninguém joga sozinho. Entra no campo da experiência que chamamos ‘eu, o outro e nós’, aonde sei que ora vou perder e ora vou ganhar. Isso é muito importante para a criança se inserir, pois quando se trata de uma disputa, ela aguça e instiga a fazer a diferença e colocar em prática o que sabemos. É importante respeitar o outro e seu espaço.” – Elaine Ferreira.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009), em seu Artigo 4º, definem a criança como “sujeito histórico e de direitos, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura”.
Nos dias de hoje, essas brincadeiras infantis estão perdendo espaço e essência, sendo facilmente substituídas por aparelhos eletrônicos. O comodismo e a falta de tempo e espaço, são uns dos principais motivos dessa troca, que gera impacto na formação das crianças.
Para isso, é preciso que ocorram mudanças na rotina. As crianças precisam ser incentivadas a realizarem atividades que desenvolverão áreas cerebrais, resultando em um melhor desenvolvimento motor, social, criativo, cognitivo e intelectual.
Luiza Andrade, mãe, pedagoga e moradora do bairro Buritis, acredita que, hoje em dia, as crianças estão exaustas. Elas recebem muita informação, mesmo antes do devido preparo emocional. Luiza cria os filhos, de 7 e 9 anos, de forma que o acesso à tecnologia seja algo eventual e não diário, enfatizando a importância do brincar.
“É uma falta de respeito, até com o tempo da infância. Nós temos muito acesso ao conhecimento e tecnologia hoje no mundo, mas a gente tem perdido o potencial de sentir, de olhar e ser verdadeiro com o outro. A educação cura quando respeitamos o ritmo da criança e o momento certo de entrar com cada conhecimento, respeitando a individualidade de cada um. Geralmente, compramos a ideia de que o acesso tecnológico cada vez mais cedo é algo surreal, mas talvez a criança não saiba falar quando está com raiva ou triste com o colega”, disse Luiza.
Entretanto, há quem defenda o uso da tecnologia no desenvolvimento infantil. Em uma dissertação de mestrado, Juliana Costa Muller, doutora e Mestra em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a autora argumenta:
“Entre a diversidade de manifestações artísticas e culturais as crianças igualmente se manifestam com o uso das tecnologias, […] dando visibilidade ao desenvolvimento da autonomia, responsabilidade, criticidade, criatividade e muitos outros princípios […]”. É possível perceber um olhar pedagógico em relação ao jogo eletrônico. Este é reconhecido como elemento da cultura infantil que pode contribuir para o desenvolvimento infantil, sendo que sua utilização na educação encontra-se amparada nos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Básica.” – Muller JC. Crianças na contemporaneidade: representações e usos das tecnologias móveis na educação infantil [Dissertação de Mestrado]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2014. 193p.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o tempo de uso diário ou a duração total/dia do uso de tecnologia digital deve ser limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial das crianças e adolescentes. É importante equilibrar as horas de jogos online com atividades esportivas, brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza;
A psicopedagoga, Ana Rosa Vidigal, também professora do Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH, está orientando um projeto de atendimento psicopedagógico para crianças da comunidade do entorno da instituição, no campus Buritis.
A proposta contempla o atendimento psicopedagógico para crianças de 6 a 10 anos, em uma perspectiva de diálogo interdisciplinar, com alunos de Pedagogia e de Psicologia, sob a orientação de seus professores.
Dias da semana: Quarta-feira (tarde), Quinta-feira (manhã) – funcionamento em Abril, Maio e Junho (número de encontros fixo, conforme combinado com a família).
Local de atendimento: UniBH – Campus Buritis
Como agendar: Envie um email para ana.vidigal@prof.unibh.br com as seguintes informações:
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