Por Laura Mourão
O trabalho voluntário é definido pela Lei 9.608/1998 como a atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social.
O voluntário dedica seu tempo e conhecimento em benefício da comunidade, realizando um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ou emocional.
Um bom voluntário é aquele que se identifica com uma problemática social e contribui, de alguma maneira, ao fortalecimento das ações que trabalham pela causa que acredita transformar diferentes realidades e melhorar a vida de outras pessoas.
São várias as formas e oportunidades de participação no trabalho voluntário:
- Participação em campanhas – de doação de sangue, de coleta de livros, de brinquedos, alimentos, reciclagem de lixo, entre outras.
- Juntando-se à grupos comunitários – apoiar a escola pública local, a associação de moradores ou atuando em alguma necessidade específica da comunidade como urbanização, saneamento e saúde, etc.
- Trabalhando em organizações sociais – que atuam em diferentes causas e oferecem inúmeras oportunidades nas áreas da saúde, assistência social, educação, cidadania, cultura, meio ambiente.
- Participando de projetos públicos – trabalhando junto às diversas secretarias municipais e estaduais que visam a melhoria da cidade e das condições de vida da comunidade.
- Ser voluntário em escolas – procurar alguma escola pública ou particular; participar da Associação de Pais e Mestres da escola de seus filhos ou de outros projetos ligados ao voluntariado.
- Realizando ações individuais – profissionais liberais (médicos, advogados etc.) que atendem uma organização social ou pessoas carentes, ou outras iniciativas como alfabetizar adultos, doar sangue, dar aulas de artesanato, incentivar a coleta seletiva de lixo, entre outras.
História do voluntariado no Brasil
A prática do voluntariado não é recente na história brasileira. No Brasil, estima-se que as primeiras iniciativas voluntárias registradas surgiram com a fundação da Santa Casa de Misericórdia, na vila de Santos, em 1543. No início, este tipo de trabalho era essencialmente feminino, e as voluntárias eram conhecidas como Damas Caridosas. Mas, o trabalho voluntário foi ainda mais disseminado com chegada da Cruz Vermelha, em 1908.
Já na década de 60, o Governo Federal criou o Projeto Rondon, destinado a levar universitários brasileiros para prestar assistência a comunidades carentes do interior do país. A partir da década de 70, surgem as primeiras ONGs do Brasil, definidas como organizações da sociedade civil que se distinguem do Estado e do mercado, e que baseiam suas atividade nas práticas voluntárias.
No dia 28 de agosto de 1985, no Brasil, foi instituído como o Dia Nacional Do Voluntariado (DNV), por meio da Lei Nº. 7.352, sancionada pelo então Presidente da República, José Sarney.
A Lei nº 9.608/98, sancionada no dia 18 de fevereiro de 1998, estabelece que o trabalho voluntário esteja previsto em contrato escrito – o Termo de Adesão que destaca a não existência de vínculo trabalhista no serviço voluntário.
De acordo com a pesquisa realizada pela Rede Brasil Voluntário e Ibope Inteligência, cerca de 35 milhões de brasileiros com mais de 16 anos fazem ou já fizeram algum trabalho voluntário, ou seja, um em cada quatro brasileiros doam parte do seu tempo livre para construção de um mundo melhor.
Perfil do voluntário no Brasil
Em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) comemorou em todo mundo a Década do Voluntariado e a pesquisa foi solicitada para realizar um levantamento do perfil do voluntariado:
Já a pesquisa Outras Formas de Trabalho 2017, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 7,4 milhões de pessoas realizaram trabalho voluntário, o equivalente a 4,4% da população de 14 anos ou mais de idade.
O perfil dos voluntários ainda é prioritariamente de mulheres, que também dedicam mais horas aos afazeres domésticos e cuidado de pessoas, mesmo em situações ocupacionais iguais às dos homens: 5% delas participaram de ações beneficentes, enquanto entre eles a taxa foi de 3,4%.
Religião e trabalho voluntário
Muitos autores identificam a atuação da igreja com o início do voluntariado, Hudson (1999) afirma que as ações de caridade coincidem com o crescimento das organizações religiosas.
“As primeiras igrejas cristãs criaram fundos para apoio às viúvas, órfãos, enfermos, pobres, deficientes e prisioneiros. Esperava-se que os fiéis levassem donativos, voluntariamente, que eram colocados na mesa do Senhor para que os necessitados pudessem recebê-lo das mãos de Deus.” (Hudson, 1999, p. 02)
Nos dias atuais, ainda observamos a grande influência da igreja católica como promotora de grandes trabalhos voluntários.
A Paróquia Santa Clara de Assis, do bairro Buritis, é um exemplo disso, com seu projeto de ajuda voluntária ‘Mãos de Clara’, que entrega comida, roupas e material de higiene pessoal para mais de 400 pessoas em situação de rua. A organização e o preparo das refeições são feitos na própria paróquia com a participação de dezenas de voluntários que saem às ruas, uma vez por mês, num verdadeiro exercício de afeto e solidariedade.
Uma das coordenadoras do projeto, Jeane Mondin, fala sobre a influência motivadora da igreja para os voluntários membros da paróquia.
“Nos fortalecemos com os exemplos de Jesus. Contamos com o apoio do nosso pároco Padre Jorge Alves Filho, e usamos as instalações da igreja para receber as doações, organizar e repassar para as pessoas que precisam. Também é na paróquia que preparamos toda a alimentação que distribuímos a população em situação de rua”, afirma Jeane.
Jeane conta também sobre sua experiência nos dois anos de trabalho voluntário dentro da igreja e o quanto é enriquecedor para seu crescimento como pessoa.
“Quando percebemos que aliviamos um pouquinho nosso próximo, isto não tem preço. E muitas vezes poder oferecer além do alimento, uma palavra, um sorriso, uma atenção. Nem sempre temos a solução para os problemas de um irmão mas podemos oferecer uma boa conversa e todos sabemos quanto nos sentimos acolhidos e parte com um pouco de atenção”.
Voluntariado e currículo
O trabalho voluntário é reconhecido no mundo todo como uma das iniciativas mais marcantes da contemporaneidade. Onde, cada vez mais, empresas e empregadores valorizam pessoas que têm no currículo esse tipo de atividade.
A versatilidade de quem luta em uma causa voluntariamente, seja ela qual for, mostra que a pessoa é capaz de se adaptar bem a diferentes situações, também demonstra aspectos de que a pessoa possa ter um perfil de liderança, pensando em conjunto e não apenas em si mesmo, além de insinuar a capacidade de motivar os demais colegas a também se envolverem em atividades extras. Mostrando assim proatividade, trabalho em equipe e flexibilidade, sendo um grande diferencial no perfil profissional desejado para o cenário atual.
O trabalho voluntário em Belo Horizonte
Segundo o site Ongs Brasil, que tem como objetivo listar as ongs voluntárias brasileiras por cidades e tipos, existem em Belo Horizonte 563 ONGS voluntárias registradas, sendo elas dos mais diversos nichos.
Mais de 20 ONGs voluntárias localizadas na regional Oeste
Só na região Oeste de Belo Horizonte, são registradas mais de 20 instituições de trabalho voluntário.
A Colmeia Centro de Educação e Profissão, localizado no bairro Nova Gameleira, acolhe, desde 1954, mães solteiras, mulheres que foram expulsas de casa por conta da sua maternidade, crianças de 0 a 6 anos e adolescentes grávidas ou com filhos que em algum momento tiveram os seus direitos negligenciados, encaminhados pela Vara da Infância e Juventude de Belo Horizonte.
A voluntária do projeto, Maria Vânia Alcântara, fala sobre a importância do trabalho voluntário para a sociedade.
“É necessário ter empatia com a causa, foco e disciplina. A responsabilidade é muito grande e os desafios são tamanhos. Sem o trabalho voluntário do chamado terceiro setor a iniciativa pública não consegue colocar em prática as políticas públicas de assistência social em prol dos mais vulneráveis”.
Já a Casa da Musicoterapia, localizada no bairro Nova Suíça, tem como objetivo acessibilizar os serviços e saberes da musicoterapia, de forma a alcançar e abraçar os indivíduos e suas famílias em situação de baixa renda. A instituição desenvolve seu eixo sociocultural, com projetos como Musicoterapia para Todos; e Uma Sinfonia Diferente – um Musical Protagonizado por pessoas com Autismo.
A estudante de psicologia e voluntária do projeto Uma sinfonia Diferente, Beatriz Marotta, explica a importância do projeto social desenvolvido pela ONG para tornar a musicoterapia acessível para os pacientes com Transtorno do Espectro Autista. “Damos visibilidade para esses pacientes e empoderamento para as famílias”, afirma a voluntária.
Beatriz conta que, desde criança, tem contato com o trabalho voluntário e que não se vê mais sem ajudar o próximo.
“Faz bem para a nossa saúde mental e física também, ao dedicarmos nosso tempo doando, recebemos muito mais em troca. A gente conhece várias realidades e aprendemos muito com elas. Começamos a ver a vida com outros olhos e isso nos torna melhor como ser humano, sendo pessoas mais empáticas. Acredito que o trabalho voluntário é uma ferramenta de transformação social, tanto de forma individual quanto coletiva!”
A satisfação de fazer algum tipo de trabalho voluntário é realmente gratificante. Hoje em dia, várias pessoas estão descobrindo o caminho “do fazer o bem sem olhar a quem”. O valioso trabalho do voluntariado já está presente em vários setores. Isto mostra como é importante ser solidário com o próximo; quando pessoas do mundo inteiro estão sendo ajudadas por voluntários que tiram parte de seu tempo para trabalhar sem ganhar nada em troca.
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