Por Arthur Lobo

Durante a quarentena, causada pela pandemia da Covid-19 que começou no mês de março em Belo Horizonte, as famílias que possuem trabalhadores autônomos ficam mais expostas aos problemas financeiros, principalmente em comunidades carentes.

Esta realidade está presente na Vila Ventosa, região Oeste de BH, onde o Projeto Resiliente SLUM reside como um exemplo de ação social solidária. O projeto mudou suas atividades devido ao isolamento social para continuar ajudando a população local.

O projeto Resiliente SLUM foi desenvolvido para orientar a juventude desfavorecida, de 15 a 19 anos, em prol de quebrar os estereótipos sociais e mudar a visão dos jovens quanto a capacidade de desenvolvimento intelectual e financeiro.

O atendimento acontece uma vez por mês, no “Dia do Entretenimento”, em que 40 jovens do sexo masculino realizam práticas esportivas, palestras e bate-papos com a orientação do fundador do projeto, Fabio Anacleto.

“O objetivo do SLUM é desconstruir na mente desses jovens os estereótipos que a sociedade cria e também mudar a ideia de que o jovem da favela está fadado a virar criminoso, não vai conseguir ter um bom emprego, ingressar em uma universidade e ser alguém na vida”, explica Fabio Anacleto.

Jovens durante ação do projeto nas ruas da comunidade, antes do período da pandemia. Foto: Amanda Brito.

“UM HERÓI DESCONHECIDO”

Fábio Anacleto tem 29 anos, nasceu na Vila Ventosa e relata que passou pelas mesmas dificuldades que os jovens de hoje. Foi criado por sua mãe, solteira, e encontrou dificuldades para arrumar emprego. Foi preso em 2016, mas nunca desistiu, e afirma que a sua “marca é a resiliência”.

O jovem recebeu sua primeira oportunidade de emprego na ONG Grupo de Educação, Desenvolvimento e Apoio ao Menor (GEDAM), que fica na Vila Ventosa, onde começou como office boy e, hoje, é coordenador. Ele tem graduação em Design Gráfico (2013), especialização em Coach (2019) e, atualmente, faz faculdade de Serviço Social. Essa jornada o motivou a criar seu próprio projeto, para transferir suas experiências aos jovens da região e fazê-los seguir um caminho diferente.

Guilherme Pereira de Oliveira, de 16 anos, faz parte do projeto e afirma que o fundador, Fabio Anacleto, é um “herói desconhecido”. Segundo Guilherme, o SLUM mudou sua vida. Participando das atividades, ele aprendeu a escutar e dialogar com as pessoas, além de se interessar por novos assuntos.

“Eu não sabia que tinha capacidade para ser esse menino que sou hoje, sou muito útil para a comunidade, comenta Guilherme.

Entrega de cesta básica no período de quarentena. Foto: Amanda Brito.

MUDANÇA DE ATUAÇÃO DURANTE A PANDEMIA

No momento, o projeto atua no mapeamento da comunidade, em busca das famílias que estão em situação mais vulnerável devido ao isolamento social causado pelo novo coronavírus.

Diante disso, Fabio Anacleto está arrecadando doações de alimentos, materiais básicos de limpeza e higiene pessoal para auxiliar as famílias. Além disso, o SLUM já distribuiu 300 máscaras de proteção em abril, tem realizado orientação especializada nas casas, entregado cestas básicas e cartões vale-compras, distribuídos a partir de maio, com saldo de R$ 100,00 em três parcelas, somando uma ajuda de R$ 300,00 para os beneficiados.

A família do jovem Ian Caique Justino foi beneficiada pelo SLUM com uma cesta básica e um kit de higienização. Segundo ele, o projeto ajudou bastante neste período de pandemia e isso mostra a solidariedade do projeto não apenas para com sua família, mas com a comunidade.

A comunidade está localizada na região Oeste de Belo Horizonte e, segundo Edilson Martins, presidente da Associação Comunitária da Ventosa (ASCOVE), existem por volta de 19 mil habitantes na região, 320 famílias que têm, em média, 6 a 8 pessoas por residência.

70% da população local possui renda média de um salário mínimo, já os desempregados ou autônomos, estão na casa dos 20%, o que revela a fragilidade financeira dessas famílias.

COMO OS JOVENS ESTÃO DIANTE DA CRIMINALIDADE?

Fabio Anacleto revela, ainda, que os jovens estão mais expostos e vulneráveis à criminalidade, e que as pessoas na favela estão mais displicentes e continuam na rua vivendo normalmente, indo contra as recomendações do Ministério da Saúde.

Desde o dia 18 de março, as aulas do município de Belo Horizonte estavam suspensas por tempo indeterminado. Mas a rede estadual de Minas Gerais retomou as aulas na segunda-feira, dia 18 de maio, de forma remota. As ferramentas que vão possibilitar esse ensino, são: apostilas disponíveis na internet, aulas por meio de emissora pública de televisão (Rede Minas) e um aplicativo que facilita o diálogo entre alunos e professores.

Apesar da volta às aulas, nem todos os jovens da comunidade, têm as ferramentas necessárias para estudar de maneira remota e continuam expostos.

“Os jovens ociosos, sem atividades para realizar, seja na escola ou no GDAM, acabam ficando na rua, onde o crime acontece”, afirma Fabio Anacleto.

COMO AJUDAR

O projeto tem arrecadado cestas básicas completas, alimentos não perecíveis para montagem de cestas, álcool em gel, máscaras, produtos de limpeza e higiene pessoal, além de agasalhos (para temporada de frio) ou qualquer quantia em dinheiro.

Quem se interessar em contribuir com a causa do Resiliente Slum pode entrar em contato com o coordenador do projeto Fábio Anacleto, através do WhatsApp: (31) 98657-5234, ou enviar mensagem pelas redes sociais: @resiliente_slum / @fabiio_anacleto.