Fernanda Freitas e Letícia Sudan 

A região Oeste de Belo Horizonte abriga o segundo maior parque da capital, o Aggeo Pio Sobrinho, no Buritis. O bairro também abriga algumas Áreas de Preservação Permanente (APPs), além de dois córregos importantes para a cidade: o Ponte Queimada e o Cercadinho

A engenheira ambiental e professora do UniBH – Centro Universitário de Belo Horizonte, Elizabeth Ibrahim, esclarece que as áreas verdes são consideradas no planejamento urbano pela grande importância que têm na cidade. “São áreas que possuem uma vegetação que ajuda na minimização do microclima, ou seja, harmoniza a qualidade do ar e também ajuda na preservação ambiental.”

 Mesmo com diversos parques na região, eles se encontram concentrados em determinadas áreas. No território 1 da região Oeste, que incorpora 10 bairros, do Gutierrez ao Salgado Filho, o parque Jardim América é a única área verde, o que torna mais importante sua preservação, como destaca João Batista, um dos fundadores do Movimento Jardim América. “Nós temos o menor índice de árvores por habitante em Belo Horizonte, isso que fez com que nós entrássemos nessa luta”. Veja no infográfico:

GRANDES ÁREAS VERDES DA REGIONAL OESTE

(Infográfico: Paulo Henrique)

Plano Diretor e Legislação

O Plano Diretor da cidade de Belo Horizonte norteia o planejamento e a gestão da cidade. Ele estabelece o valor mínimo de área verde por habitante em 12m². Conforme Portal da Prefeitura a capital ostenta, hoje, 18m² de área verde por habitante. Contudo, as áreas são mal distribuídas entre as regiões administrativas de BH. 

De acordo com dados da Prodabel (Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte), a região Oeste de Belo Horizonte tem 36,06 km² e 63 bairros. Dados da prefeitura apontam, ainda, que a região tem apenas 12,38m² de área verde protegida por habitante, número bem menor que regiões como Barreiro e Norte, com 58,52m² e 22,17m² respectivamente. Confira abaixo:

(Gráfico: Paulo Henrique)

Infraestrutura natural

O planejamento urbano deve levar em conta a infraestrutura natural. Além das áreas verdes, os pavimentos permeáveis, telhados verdes, áreas de biorretenção e construção de zonas úmidas, atuam para amenizar e evitar os impactos de enchentes, com retardação do escoamento e filtração da água da chuva.

Com as chuvas e tragédias recentes, a preservação das áreas verdes entra em pauta por sua atuação para absorção desse grande volume de água. “As pessoas devem reivindicar a manutenção dessas áreas verdes, pois sabemos que, quando tem muita chuva, se não tiverem uma boa manutenção, podem causar danos físicos”, ressalta Elizabeth Ibrahim.

Mobilização Popular

Como consta no arquivo público da cidade de Belo Horizonte, a regional Oeste da cidade nasceu a partir de chácaras e fazendas. Essas áreas se transformaram ao longo do tempo e hoje abrigam bairros como o Jardim América, que teve sua ocupação intensificada na década de 60. O bairro foi planejado para manter um estilo de vida mais rural, contudo, já não possui nenhuma área verde para o usufruto de seus habitantes. 

Quando o Diário Oficial de Belo Horizonte anunciou, em 2011, o pedido de licenciamento para corte da mata nativa na área da chácara Jardim América, os moradores do bairro decidiram se mobilizar. A construtora MASB planejava construir no local um grande empreendimento, com 2 torres de 23 andares cada.

Os moradores começaram criando o coletivo GOM&UJA – Grupo Organizado de Moradores e Usuários do Bairro Jardim América e Adjacências que, por meio de ações, mobilização e divulgação do conflito, age para a preservação da última grande área verde do bairro e implementação de um parque no local. Desse coletivo, surgiu o Movimento do Parque Jardim América, que organiza cafés, abraçaços, manifestações e está presente em páginas nas redes sociais e no carnaval, com o Bloco Parque JA, buscando fortalecer a luta e dar maior visibilidade para a causa.